A se confirmarem as projeções de vitória de Joe Biden em Wisconsin e Michigan, teremos um indicativo de que boa parte do eleitor do Cinturão da Ferrugem abandonou Donald Trump.
A região é emblemática da transformação a que os Estados Unidos passaram, de uma economia tradicional do século 20 para o "mundo plano" no século 21 - termo utilizado no brilhante livro de Thomas Friedman, "O mundo é plano".
Joia da coroa da indústria automotiva, Michigan, por exemplo, sofreu na pele a dura realidade da globalização, vendo empregos desaparecer e vagas de trabalho migrarem para o México e para a China. Aliás, o apelido de Cinturão da Ferrugem se deve a essa desindustrialização a que a região passou, situação aprofundada pela crise econômica de 2008. Quem viaja pela área, próxima aos Grandes Lagos, esbarra a cada bons quilômetros com esqueletos de fábricas abandonadas a céu aberto.
A região tradicionalmente apoiava os democratas, muito ligados aos sindicatos dessas empresas. Mas esse elo começou a se desfazer durante o governo Barack Obama. Os democratas se afastaram dos trabalhadores, que, desempregados ou com os bolsos vazios, atenderam ao canto do outsider Donald Trump, com suas promessas de trabalho. Pesou também a ideia de um retorno mítico ao antigo eldorado. Ohio e Indiana seguem firmes ao lado do republicano, que obteve vantagem considerável nesses Estados em 2020. Mas o eleitor de Wisconsin e Michigan converte em voto para Biden sua frustração. A pandemia, que até agora parece um pouco afastada das discussões sobre os resultados da eleição de 2020, pode ter tido influência nessa mudança – o baixo desemprego e o aquecimento da economia eram trunfos de Trump que, de dezembro para cá, foram se liquefazendo de forma diretamente proporcional ao avanço do coronavírus na América.