A afirmação do presidente Jair Bolsonaro sobre o fim da Operação Lava-Jato pode ser a confirmação de um diagnóstico cujo sintomas tem sido observados nos últimos meses e que ressuscita a famosa frase do ex-senador Romero Jucá sobre "um grande acordo nacional" para "estancar" a operação.
O procurador da República e ex-integrante da força-tarefa da Lava-Jato Douglas Fischer aponta a utilização de dois mecanismos que possibilitam que o governo desmonte a operação. Ele cita os ataques do sistema politico às estruturas da Lava-Jato, especialmente ao orçamento e à autonomia das forças-tarefas.
— Eu não consigo visualizar como ele (Bolsonaro) acabaria, mas existem vários mecanismos que foram postos no caminho para tentar estancar, para tentar secar, para tirar as estruturas. A parte orçamentária, a parte de autonomia dos órgãos de investigação. Isso sim. Sob essa ótica se conseguiu retardar muita coisa. Dias atrás, teve uma entrevista de um senador por Alagoas em que ele disse que estava parabenizando o presidente da República e outras autoridades por finalmente acabarem ou tentarem acabar com a operação Lava-Jato — analisa.
O senador citado por Fischer é Renan Calheiros (MDB-AL), que em entrevista elogiou Bolsonaro por combater um "estado policialesco" no Brasil. O movimento de Calheiros é interpretado pelo procurador como um movimento de políticos contra um inimigo em comum: a Operação Lava-Jato.
— O sistema é muito mais forte e chega num momento em que ele se alia. As forças politicamente contrarias se aliam para estabelecer um discurso. Um discurso mais ou menos que foi estabelecido no reich na Alemanha por Joseph Goebbels que nós precisamos repetir uma mentira várias vezes para ela se tornar uma verdade. E o discurso de agora é o seguinte: a Lava Jato cometeu excessos e as pessoas se convencerem disso para depois acharem natural que se destrua todo trabalho que está sendo construído — afirma.