Ainda restam dois anos para uma nova eleição presidencial. E tempo, em política tal como na vida, é fator determinante para tomada de decisões ou para a projeção de uma situação futura. Ainda assim, cabe observar com atenção a pesquisa Exame/IDEIA divulgada nesta sexta-feira (4) que aponta Jair Bolsonaro reeleito em 2022 em todos os cenários eleitorais, independente de quem seja seu adversário.
O prognóstico foi apontado por Exame/IDEIA - projeto que une o braço de análise de investimentos da EXAME (Exame Research) e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Conforme a pesquisa, se as eleições presidenciais fossem hoje, o chefe do Executivo estaria reeleito para mais quatro anos à frente da nação, enfrentando oponentes como o ex-presidente Lula e o ex-juiz federal Sergio Moro.
E por quais razões?
A coluna vai se debruçar sobre uma delas. Como dito acima, o cenário é fotografia do momento: setembro de 2020. Em que pese o alto número de mortos por coronavírus, parcela expressiva da população passou a receber uma ajuda mensal do governo federal de R$ 600. O benefício foi projetado pelo governo com valor inicial de R$ 200, mas o Congresso bateu o pé e conseguiu aumentar o montante pré-estabelecido. Quem colheu os louros? Bolsonaro.
Para entender melhor o fenômeno, é fundamental observar os números. Dados do IBGE divulgados em julho revelam que quase metade dos domicílios brasileiros recebeu auxílio emergencial no mês de junho. Repito: quase metade dos domicílios brasileiros. Foram (são) aproximadamente 29,4 milhões (43%) de casas beneficiadas com algum tipo de auxílio emergencial do governo relacionado à pandemia do coronavírus.
O dinheiro foi (e é) usado para diferentes fins. E não somente para alimentação, como um raciocínio raso poderia sugerir. Em regiões mais vulneráveis, não foram poucas as famílias que aproveitaram o auxílio para reformar seus espaços de moradia. E não se trata de construir uma casa de dois pisos com ar-condicionado e jacuzzi. Mas sim sobre conseguir reformar o banheiro de um casebre que, em muitos casos, mal tem acesso à saneamento básico. Dados revelados pelo jornal Valor Econômico mostram que a venda de cimento no Brasil cresceu na pandemia - exatamente apontando nesta direção.
Para o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo Dilma Rousseff, Thomas Traumann, o auxílio foi o responsável por esta mudança na popularidade do presidente entre os eleitores. No entanto, o ponto está especialmente em qual será o fôlego do Estado para custear esse benefício. O governo já anunciou a prorrogação até dezembro com a metade do valor, ou seja, R$ 300. Mas para janeiro, em tese, estará extinto. Como reagirão os brasileiros? O governo lançará um programa de renda (Renda Brasil) para substituir o Bolsa Família? E a economia?
Até lá, muita água deve - e vai - rolar. E neste texto sequer estão mencionados outros fatores: as investigações que envolvem a família Bolsonaro, novos reflexos da pandemia na vida de milhões, ou por quanto tempo o presidente conseguirá manter a lua de mel com o Congresso.
— Hoje, dadas as condições, o cenário é de Jair Bolsonaro reeleito. A única pessoa que pode derrotar Jair Bolsonaro se chama Jair Bolsonaro - alertou Traumann em entrevista concedida em agosto, que você pode conferir abaixo.