Esqueça o impeachment. Não vai acontecer.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, descartou qualquer possibilidade de levar adiante alguns dos pedidos de afastamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, que foram protocolados junto à Mesa Diretora. Observe-se que estamos falando sobre uma primeira etapa: a aceitação ou não do instrumento previsto na Constituição. Isso porque cabe a Maia dizer se algum dos requerimentos deve seguir tramitando ou, em outro cenário, ir para o arquivo da Casa.
É mais sorte do que juízo de Bolsonaro ter Maia à frente da Câmara. O deputado, natural do Estado do Rio de Janeiro, é conhecido por um perfil conciliador e cada vez mais alinhado aos interesses econômicos do país. Foi Maia, por exemplo, quem pôs a Reforma da Previdência embaixo do braço e, como avalista da proposta, trabalhou para que ela fosse aprovada.
Caso o presidente da Câmara ostentasse outro perfil (lembremos o explosivo Eduardo Cunha, cassado e preso por desvios na Lava-Jato) talvez Bolsonaro e o Executivo sofressem um pouco mais. Na última sexta-feira, Maia trabalhou pela manutenção do veto presidencial sobre aumento para servidores, ponto que também beneficiou o presidente e a equipe econômica liderada pelo ministro Paulo Guedes.
Em outra perspectiva, o presidente da Casa também é um excelente observar político. Não há pressão do povo, é verdade, para clamar o impeachment de Bolsonaro. Mas a ausência não se restringe ao movimento das ruas. Não há, por exemplo, entidades econômicas pressionando para que o chefe do Executivo seja deposto. Até aqui, patos amarelos continuam restritos ao governo Dilma Rousseff e desenhos infantis.
Em outra ponta, são opositores e setores ligados à esquerda que cobram afastamento de Jair B.
Há quem lembre que o próprio Maia tem consciência (e portanto cautela) em relação às reações contra ele, a partir de um eventual movimento de levar o impeachment adiante. Convém lembrar que o nome do deputado foi citado em delações hoje engavetadas, que podem ressuscitar a depender de forças políticas de Brasília. Por conta do foro privilegiado, o caso de Maia orbita junto à Procuradoria-Geral da República - à frente ninguém menos do que Augusto Aras, que já deu sinais de afinação sublime com o presidente Bolsonaro.
Para além destes elementos, a crescente popularidade do presidente não pode ser descartada (pesquisa Datafolha) e a atual aliança com o centrão é parte da leitura de que, se o impeachment fosse a plenário, Bolsonaro sairia vencedor.
Considerados todos os pontos listados acima, há argumentos de sobra para que Maia não considere importante conduzir a tramitação do impeachment do presidente neste momento. E com uma pandemia com milhares de mortos no Brasil, há ainda um motivo razoável para justificar seu (não) movimento:
— Não acho que é o momento de avaliar um processo de impeachment. Tem 120 mil mortos (por coronavírus). Eu prefiro focar a pauta da Câmara nestes assuntos. (Impeachment) Tem que ser pensado com calma e avaliar se há crime de responsabilidade — declarou à Rádio Gaúcha.
Ouça a entrevista: