O relógio havia marcado dezoito horas pelo horário de Brasília, no sábado, quando o governo do Estado do Rio Grande do Sul divulgou a primeira atualização do modelo de distanciamento controlado, que através de dados e uma série de protocolos permite a retomada gradual de atividades por municípios quando há indicadores mais seguros em relação à ocupação de leitos e a curva de novos casos da covid-19. A coluna, então, telefonou para a secretária do Planejamento, Leany Lemos, uma das gestoras à frente do plano, para apurar e avaliar os pontos mais importantes e, ali, já havia o indicativo de uma boa notícia: o Estado não possuía mais regiões com bandeira vermelha (que indica um alerta maior e medidas mais restritivas à população).
Leany, que havia passado a tarde envolvida com planilhas, números, checagem e rechecagem de dados, pediu apenas alguns minutos porque não havia conseguido comer, nem mesmo ir ao banheiro naquela tarde.
Conto esse bastidor pra dar uma dimensão aqui da dedicação de uma agente pública comprometida quanto ao enfrentamento da pandemia. São poucas horas de sono e muitas de trabalho para construção de um modelo complexo, preocupado com as pessoas, com a saúde e a economia. Não sem razão o plano implementado pelo Rio Grande do Sul recebeu elogios país afora como o melhor plano adotado por uma federação, com interesse do Banco Mundial e de outros países que gostariam de reproduzir as mesmas medidas. Um leitor mais sisudo poderia acrescentar, aqui, que não estão fazendo mais do que a obrigação. Mas em tempos em que chefes de Poder insistem em promover o negacionismo como política de Estado - "Não sou coveiro, quer que eu faça o quê? - cabe, sim um elogio a quem se comporta de maneira diferente.
À coluna, ao secretária do Planejamento, Leany Lemos, fez questão de dizer que não trabalha sozinha e elencou uma série de técnicos que compõe a força-tarefa criada pelo Piratini para fazer frente à doença que paralisou o mundo. Com destaque para a titular da pasta da Saúde, Arita Bergmann, que foi reconhecida pelo ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, como uma das melhores secretárias do Brasil na área. São elas que comandam a estratégia adotada pelo Rio Grande do Sul, com a confiança depositada pelo governador Eduardo Leite e a chancela jurídica de outro personagem fundamental para a definição das ações, o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa.
Em alinhamento com Mandetta, o ex-titular da Secretaria-Executiva do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, afirmou que o Rio Grande do Sul foi capaz de construir o mais "detalhado, inteligente e racional" dos planejamentos estabelecidos até aqui pelos governadores. Durante o tempo que esteve no ministério, Gabbardo foi uma espécie de braço direito do então ministro da Saúde.
O plano, aliás, seguirá sendo atualizado a cada sábado, a partir das informações geradas por gestores dos municípios e organizadas pelo Piratini. Convém lembrar, contudo, que as políticas não dependem somente dos gestores, mas de cada um dos gaúchos para que possam ter eficácia. Quanto mais os protocolos forem seguidos, melhor será a chegada dos novos dias. Caso não sejam, o avanço da doença será consequência e, ali adiante, pode ser que sejam necessárias novas medidas de restrição. É preciso que todos façam a sua parte, Poder público e sociedade, para vencermos o novo coronavírus.