O presidente da República ofende jornalistas, convoca para manifestação contra o Congresso Nacional, homenageia torturador e não consegue explicar as relações do filho, que é senador da República, com milicianos e um obscuro esquema que sugere devolução de valores dos salários de assessores dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A responsabilidade é de quem? Da mulher, claro. Ou existe, na era global de disseminação de falsas notícias, arma melhor para atingir a honra de um homem do que atribuir a ele um chifre no meio da testa? Tem que ver isso daí.
Pois bem. Usuário contumaz da estratégia de disseminar notícias sem procedência, Bolsonaro viu o nome da esposa circular com força nas redes sociais no fim de semana por um suposto caso extraconjugal de Michelle Bolsonaro envolvendo um deputado federal (que, aliás, é ex-ministro do seu governo). O político em questão ocupava a pasta da Cidadania até pouco tempo atrás, pasta à qual a primeira-dama está vinculada por conta de ações voltadas a pessoas com deficiência e doenças raras, beneficiando milhares de mães e crianças pelo Brasil.
Parêntese: não se trata aqui de apurar a veracidade do episódio — ninguém tem nada que ver com isso. Mas cabe, sim, refletir sobre o que está por trás de estratégias sórdidas e mal intencionadas como essa. Dizer que a primeira-dama envolveu-se com outro homem tem um único objetivo neste caso, mais explícito que toma lá dá cá. É machismo, senhoras e senhores. De direita, de esquerda, de cima e de baixo. Muito baixo.
Por que é preciso atacar Michelle por suas relações? Para atingir a honra de um homem: Jair Bolsonaro. Ou alguém mencionou a investigação sobre o cheque de Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama? Não. Vamos falar da vida sexual, claro. Numa aliança pelo Brasil.
Especular sobre a vida sexual de Michelle ou da jornalista da Folha de São Paulo é nojento e lamentável. Em 2020, a poucos dias do 8 de março, seguimos ouvindo que precisamos nos deitar com alguém para conseguir alguma coisa. Para quê? Para alcançar o posto ao qual chegamos com esforço e muito trabalho. Ou seria para atingir aquele ou aquela com quem estamos casadas? Apenas parem. Nós precisamos — e exigimos — respeito. Tá OK?