Na discussão em torno da denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal contra sete pessoas, inclusive o jornalista americano Glenn Greenwald, há pelo menos um ponto em que o acusado está certo: não houve conselhos que traduzissem uma associação criminosa junto aos hackers que acessaram mensagens e celulares de autoridades, inclusive da Operação Lava-Jato. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta quarta-feira (22), Glenn voltou a reforçar seu posicionamento:
— Eu não dei conselho para a minha fonte. Eu não posso dar conselho, não posso dar sugestões, mas por outro lado, eu devo proteger a minha fonte. Então, obviamente, eu tinha a obrigação de avisar a minha fonte de que estava gravando todas as nossas conversas — ratificou.
O que o procurador Wellington Divino Marques, autor da denúncia contra Glenn, quer fazer entender no documento é que o jornalista aconselhou os hackers e, portanto, uniu-se a eles na formação de uma organização criminosa. Responde Glenn, no diálogo que consta no material produzido pelo MPF, ao ser questionado sobre arquivar as conversas: "É difícil porque eu não posso te dar conselho, mas eu tenho a obrigação para proteger meu fonte e essa obrigação para mim é muito séria". Em outro trecho destacado, o jornalista afirma "Isso é a sua escolha, mas estou falando e, isso não vai prejudicar nada que estamos fazendo, se você apaga".
Ouça a entrevista de Glenn Greenwald à Rádio Gaúcha:
Ora, basta uma leitura superficial sobre o material para se perceber que o jornalista é bastante cuidadoso e reforça a preocupação em não dar conselhos, como quer sustenta o procurador. O MPF quer fazer crer que a relação próxima, assim interpretada por Wellington Marques, busca converter a ideia de "proteção ao sigilo da fonte" em "imunidade para orientação de criminosos". Entretanto, a própria Polícia Federal reiterou, no relatório final de sua investigação, que Glenn adotou "postura cuidadosa e distante em relação à execução das invasões". A PF se dedicou a analisar minuciosamente as conversas entre Glenn e o hacker. Resultado: não viu provas. O procurador analisou o mesmo diálogo. Como consequência, denunciou o jornalista.
Glenn ainda estuda qual medida jurídica será adotada diante da denúncia apresentada ontem. Mas, a julgar pelos posicionamentos uníssonos de associações que englobam a defesa do trabalho jornalístico e de profissionais renomados de veículos como Washington Post e New York Times, não há outra interpretação a ser feita. Há clara afronta e ameaça à liberdade de imprensa, que em uma democracia não pode ser aceita.