Os anunciados cortes em verbas federais para bolsas de pesquisa e projetos científicos no Brasil em nada contribuem para a construção de um país inovador. Daí a avaliação de que é o "medíocre" a economia gerada a partir do contingenciamento anunciado pelo governo Bolsonaro, em especial nas áreas de ciência e tecnologia. A interpretação foi feita à coluna pelo reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rui Vicente Oppermann, a partir do anúncio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) de que o novo corte de verbas do Ministério da Educação (MEC) impossibilita a concessão de novas bolsas em 2019.
Opperman teceu um raciocínio extremamente preocupante sobre o desenvolvimento do país num futuro próximo e a postura em relação às demais nações desenvolvidas. O reitor da UFRGS salienta que ao deixar de investir em tecnologia e pesquisa, crescerá a defasagem do Brasil em relação aos países com os quais se relaciona bilateralmente. Neste sentido, a médio e longo prazos, será cada vez mais necessário importar — e com isso, gastar com — tecnologia de outros países.
— É muito grave. Mesmo que depois se recuperem essas bolsas e o investimento, vai haver uma grande defasagem porque os outros países continuarão se desenvolvendo. Isso aumentará nossa dependência tecnológica, o que redunda em mais gasto para o país. É uma economia medíocre. Lá adiante vamos gastar mais para comprar as tecnologias que deixam de ser produzidas aqui — alertou.
Para Rui Opperman, ao deixar de investir em pesquisa, o governo acaba privando a sociedade de um futuro melhor, mais desenvolvido. Ele acrescenta que o avanço promovido pela pesquisa contribui, inclusive, para o desenvolvimento econômico do país.
– Nenhum país sai de uma crise ou de uma recessão sem investir em pesquisa e em pós-graduação – completou.
Na última segunda-feira, Anderson Correia, presidente da Capes, anunciou o corte de 5.613 bolsas de mestrado e doutorado, referentes a pesquisadores que já finalizaram seus estudos, e que não serão repassadas para outros alunos. Apenas em 2019, foram três anúncios de cortes. Nos oito meses do ano, a gestão Jair Bolsonaro extinguiu 11.811 bolsas de pesquisa financiadas pela Capes, o equivalente a 12% das 92.253 bolsas de mestrado e doutorado financiadas no início do ano.