A líder indígena e youtuber Ysani Kalapalo, levada à Assembleia Geral da ONU como integrante da comitiva oficial do presidente Jair Bolsonaro, teceu duras críticas à forma como é tratada por índios que pensam diferente dela. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta quinta-feira (26), Ysani disse que é preciso respeitar o índio que quer se atualizar e citou o fato de muitas aldeias já estarem conectadas à internet.
A indígena afirmou que parte das críticas é direcionada a ela pelo fato de ser uma mulher que fala e expõe suas opiniões. Segundo Ysani, a cultura indígena privilegia os homens, que são designados caciques.
— O índio tradicional sempre vai eleger como seus líderes caciques homens. Eu sou uma afronta a todos esses caciques — disse.
Ysani afirma ainda que, conforme o entendimento da aldeia onde vive (ela é moradora do Parque Indígena do Xingu), a mulher tem apenas a função de procriar e deve ser submissa ao marido.
— Eu vivo numa cultura em que a mulher é vista como submissa, só para procriar. O homem é o líder, o cacique. A mulher é submissa. Então, para eles, mulher tem que estar calada. Isso segundo a tradição Xingu. Sou vista como rebelde porque venho quebrando tudo isso, aquilo que é escondido, que não é falado — afirmou.
Ysani é natural da aldeia Tehuhungu, localizada no Parque do Xingu, no Mato Grosso, e tem se mostrado uma indígena dissonante. De etnia kalapalo, considera-se uma youtuber de direita e apresenta-se como uma "indígena do século 21". Em seu canal, soma 276 mil inscritos e mais de 28,6 milhões de visualizações.
Para Ysani, o índio também tem que estar submetido à legislação brasileira. Ela cita crimes de pedofilia e infanticídio e disse que já presenciou casos.
— Foi horrível. Hoje eu mesma luto com os demais guerreiros para que a lei brasileira seja inserida dentro da cultura indígena. Índio também tem que ser punido. Eu já vi infanticídio acontecer, foi uma coisa que me chocou, por isso que eu luto tanto — concluiu.
Questionada sobre as ameaças de morte que relatou ter sofrido, ela garante que não vai recuar, porque se sente protegida e também por perceber que mulheres e meninas se sentem representadas a partir do seu discurso.
— Hoje em dia não importa mais se estão me ameaçando de morte. Nesse tempo todo, continuo viva. Acredito em espíritos, proteção divina. Estou tranquila com isso.