Caía a tarde feito um viaduto quando, no último domingo (9), o site The Intercept Brasil divulgou as primeiras reportagens que expunham conversas entre procuradores que compõem a força-tarefa da Operação Lava-Jato, além de um punhado de diálogos — no mínimo, impróprios — entre o então juiz Sergio Moro e o procurador responsável pela operação em Curitiba, no Paraná, Deltan Dallagnol.
Desde lá, são diversas as correntes e apostas que versam sobre o tamanho do desgaste que se imporá sobre a maior operação contra corrupção que o Brasil já teve notícia. Quanto à gravidade dos diálogos não resta dúvida — basta imaginar, sem esforço, um cenário contrário em que Sergio Moro e o advogado de um dos condenados (vejamos, Eduardo Cunha) combinam novas fases da operação. Até aí, me parece claro, ponto vencido.
Mas admitamos que haja muito mais entre o céu e a terra do que possa imaginar nosso auto-denominado filósofo Olavo de Carvalho, sem entrar no mérito do terraplanismo. Reparem a interessante ponderação exposta pelo ministro da Suprema Corte Luis Roberto Barroso nesta terça-feira:
— Tenho dificuldade de entender um pouco essa euforia que há em torno disso — confessou, ao se referir ao brado retumbante daqueles que nesses últimos dias se insurgiram contra a operação que já colocou atrás das grades ex-presidentes, governadores, deputados, senadores e os maiores empreiteiros do país por conta da participação em esquemas que esvaziaram os já combalidos cofres públicos.
Dinheiro que, você sabe, deveria ter sido aplicado em qualquer outra área que não fossem as bolsas e sapatos da esposa de Eduardo Cunha ou a mansão de Mangaratiba do casal Sérgio e Adriana Cabral (só a lancha foi avaliada em R$ 4 milhões). Notem que não mencionei sítio nem pedalinho, tá oquei?
De fato, confesso ser possuidora da mesma ignorância do ministro Barroso a respeito dessa tal “euforia”. Admitamos, sim, o erro de juiz e procurador neste processo. Sejamos todos possuídos pela indignação de que leis foram infringidas — cortem-lhes as cabeças! — e recomecemos do zero sem qualquer desrespeito ao Estado Democrático de Direito.
Mas, resta ainda certa espécie: comemorar o quê? A essa altura, alguém ainda tem dúvida que houve corrupção na Petrobras? Que diretorias foram loteadas entre partidos políticos? E que o dinheiro irrigou campanhas eleitorais e engordou o bolso de corruptos? O que devemos fazer com o dinheiro já devolvido? Oferecer de volta às empreiteiras? Ou devolver a mansão de luxo a Sérgio Cabral?
O que quero dizer aqui é:
- Erros da Lava Jato devem ser apurados e punidos — ninguém está acima da Lei.
- Não se pode simplesmente desconsiderar a desarticulação de um sofisticado esquema de corrupção, com direito a devolução de dinheiro aos cofres públicos, a partir do erro de seus integrantes. Que sejam punidos. Eles, os corruptos, o inventor do escanteio curto.
— Todo mundo sabe — completou o ministro, acrescentando — que as diretorias da Petrobras foram loteadas entre partidos com metas percentuais de desvios. Isso é um fato demonstrado, tem confissão, devolução de dinheiro, balanço da Petrobras, tem acordo que a Petrobras teve que fazer com os infratores de Nova York.
É no mínimo de se estranhar que alguém fique eufórico com o insucesso de uma operação anticorrupção.