Perdemos Ricardo Boechat. E, com isso, a voz da indignação necessária. A frase não é minha. É do jornalista e apresentador da TV Globo, Chico Pinheiro. Conversamos na tarde desta segunda-feira (11) durante o programa Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha, poucas horas depois da confirmação da morte do jornalista de 66 anos, na queda de um helicóptero, em São Paulo. Ele resumiu a perda desta forma.
Boechat é jornalista de longa data. Passou pelas redações de O Globo, Estadão, Jornal do Brasil. Atualmente, ancorava com paixão e essa tal indignação referida pelo Chico o programa das manhãs na rádio BandnewsFM e à noite o telejornal da TV Bandeirantes. Meu amigo Bernardo Mello Franco, de O Globo, o descreveu como um colega generoso, adorado por onde passou. A descrição é tão verdadeira que os colegas da rádio precisaram suspender a programação por algum tempo, nesta tarde, para encontrar forças para continuar uma transmissão dolorosa sobre a morte de um amigo.
Mas é sobre essa tal indignação que eu queria falar. Em tempos difíceis, de negligência e impunidade repetidamente noticiados no Brasil, de tragédias anunciadas e evitáveis como Brumadinho, Boechat fará imensa falta. Seu último comentário (na manhã desta segunda-feira), aliás, cobrava entes públicos e privados sobre as mortes provocadas pelo rompimento da barragem da Vale, em Minas Gerais, e também no caso dos meninos da base do Flamengo cujos sonhos e vidas foram enterrados, após o incêndio no Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro.
— Boechat é uma voz que vai fazer falta. É preciso que todos nós reforcemos nossas vozes para tentar ocupar essa lacuna que ele deixa — convocou Chico.
O jornalista, que trabalhou com Boechat enquanto comentarista na TV Globo no início dos anos 90, relembrou o colega como alguém que ancorava um "jornalismo que não se acomoda", capaz de se indignar com a "hipocrisia" e com a "mediocridade".
— Era luz nestes tempos de treva — concluiu.