O discurso de despedida de Aécio Neves nesta quarta-feira (13), na tribuna do Senado, em nada lembrou a volta triunfante do tucano a Brasília após a disputa à Presidência, em 2014. À época, ovacionado pela conquista do voto de 51 milhões de brasileiros, Aécio retornou ao Congresso e foi aplaudido pelos colegas. No púlpito, criticou adversários políticos - em especial o Partido dos Trabalhadores - pela postura durante a campanha (“pode-se fazer o diabo e o fizeram”) e ainda prenunciou o despertar de um novo país: “um país crítico, mobilizado, um país com voz e convicções”.
O que Aécio não sabia é que este despertar de um novo país estaria pronto para atingi-lo. Em cheio. Envolvido em uma sequência de escândalos em desdobramentos da Lava Jato, Aécio viu seu prestígio político minguar aos poucos. Com a imagem arranhada, sequer disputou a reeleição ao Senado. Com o temor de uma derrota - que aliás, atingiu em cheio sua adversária na disputa à presidência em 2014, Dilma Rousseff -, Aécio tentou uma vaga na Câmara. Resultado: foi eleito. Mas os milhões de votos foram reduzidos a cerca de 106 mil, o que lhe rendeu mais quatro anos de foro privilegiado.
Prestes a trocar o tapete azul pelo verde em 2019, Aécio nem assim escapou de novas investidas da Polícia Federal. Nessa semana, residências do senador, em áreas nobres do Rio de Janeiro, foram alvos de busca e apreensão na operação batizada de Ross. A investigação apura pagamento de mais de R$ 100 milhões em propina a Aécio e outros parlamentares citados por executivos da JBS, como Joesley Batista. Com isso, cresceram no PSDB movimentos internos que pedem a expulsão do mineiro.
Sobre o assunto, Aécio embargou a voz na tribuna ontem:
- Eu tenho vivido dias extremamente difíceis, vocês podem imaginar.
Na despedida, Aécio Neves ainda citou seus familiares, entre elas a irmã Andrea Neves, que segundo o senador foi “atacada e vilipendiada covardemente”. Andrea Neves também é alvo de investigação e chegou a ser presa em operação da Polícia Federal em agosto de 2017.