A deputada estadual Manuela D'Ávila (PCdoB) fez uma longa avaliação sobre o resultado das eleições de outubro. Em depoimento ao programa Potter Entrevista, que foi ao ar nesta quarta-feira (14), a parlamentar apontou diversos erros cometidos pela esquerda que levaram à derrota da candidatura de Fernando Haddad (PT), que a tinha como vice. Para Manuela, os partidos de esquerda erraram ao não trabalhar juntos em apenas uma das candidaturas.
— O pecado original foi não termos disputado a eleição de forma unida — disse a deputada. — Nós tínhamos quatro candidatos (Fernando Haddad, Ciro Gomes, Guilherme Boulos e a própria Manuela), e a única que retirou a candidatura fui eu. Sempre falei: acho muito importante ter uma mulher, do meu campo político, como candidata, mas não serei óbice pra construção da unidade — argumentou.
Manuela também afirmou ao programa Potter Entrevista que os partidos — de direita e de esquerda — não souberam entender a importância da internet na construção do diálogo.
A deputada também teceu duras críticas ao que classificou como "escalada de violência física contra militantes", segundo ela fruto de uma "autorização expressa" em discursos por parte do presidente eleito Jair Bolsonaro e aliados.
— O Brasil sempre teve violência política. Mas nunca teve uma autorização expressa e tão estimulada, desde 88, como teve agora. São centenas de casos, de várias maneiras. Pergunta pros meninos que são gays o medo que eles têm de andar na rua — apontou.
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A deputada fez referência a falas do filho do presidente eleito Jair Bolsonaro, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Durante a campanha, um vídeo em que o parlamentar diz que "basta um cabo e um soldado" para fechar o STF se espalhou nas redes. Na ocasião, o filho de Bolsonaro divulgou nota pedindo desculpas pela declaração.
— O filho dele é um deputado eleito e responde por si. Se não responde por si, não pode ser deputado. Eu fui pra lá (Câmara dos Deputados) com 25 anos, sempre respondi por mim e não tinha "papi" pra fazer eu ficar de costas quentes.
A deputada criticou também a postura do presidente eleito sobre as declarações. Na época, Bolsonaro disse, em entrevista ao JN, ter conversado com o filho, disse que Eduardo reconheceu o seu erro e pediu desculpas.
— Ele fala aquilo do Supremo e o pai dele fala: "Ah, já pedi pro menino se retratar". Se fosse um menor 16 anos, roubando um celular na rua, ele ia defender redução de maioridade penal. O filho dele com quase 40 anos na cara. O mesmo menino disse: "Se a gente prender 100 mil, que mal tem?", ameaçando o movimento social organizado. Tu viu alguma vez o FH (Fernando Henrique Cardoso) falar isso? Na vida real, de deputado federal, sinceramente, não existe da boca pra fora.