— É que a Maria Helena é de escorpião. Eu sou de peixes — diz José Ivo Sartori balançando os braços como se o movimento formasse ondas tranquilas e serenas de sua personalidade.
Aos 70 anos, o governador do Estado recebe a reportagem de GaúchaZH no apartamento onde mora com a mulher, Maria Helena Sartori, 65 anos, na zona sul de Porto Alegre.
— Búrigo? É de câncer. Por isso ele fica assim — balança os braços mais uma vez e agora também inclina o corpo para lá e para cá, para explicar que o amigo e atual secretário de Planejamento, Gestão e Governança, Carlos Búrigo, é mais sensível e talvez por isso fique chateado com as broncas que leva do chefe desde os tempos em que trabalharam juntos na prefeitura de Caxias do Sul.
Sartori não toma café. Só em momentos muito específicos, para não fazer desfeita com algum anfitrião.
— Com quem? — pergunto.
— Se o presidente da República me oferece um café, vou dizer que não?
O candidato do MDB à reeleição conta que, neste ano, consumiu 41 cafezinhos. Tomar a bebida ficou mais difícil depois de ter abandonado o cigarro.
— Me disseram que aumentava a vontade (de fumar).
Por recomendações médicas, passou a cuidar mais da saúde. Hoje faz academia — exercícios aeróbicos e musculação — e ri quando pergunto quanto peso coloca no supino:
— Nón (carrega no sotaque). Faço para reforçar a musculatura.
A primeira atividade do dia previa um debate com o tucano Eduardo Leite (PSDB), ex-prefeito de Pelotas e com quem disputa a preferência do eleitorado neste segundo turno. Três dias antes, os dois haviam travado um embate duríssimo na Rádio Gaúcha, onde o governador chegou a pedir ao oponente um pouco mais de respeito. Quis saber o que o havia tirado do sério naquela ocasião.
— Ele falou da Maria Helena. Não precisava.
No dia da visita da reportagem, a primeira-dama havia saído cedo para cumprir compromissos da campanha do governador pelo Interior. Casados há mais de 40 anos, Sartori e Maria Helena são pais de Marcos e Carolina.
Antes de sair para o debate, o governador faz uma busca por vinhos da Serra em sua geladeira:
— Tem vários, ganho muitos – E logo abre a geladeira, que está lotada de potes plásticos.
— Esse aqui sobrou da janta de ontem — aponta para uma embalagem redonda com dois pedaços de aipim, uma porção arroz e carne de sol desfiada. — Mamão sou eu que como — e vira o olhar para outro pote com pequenos pedaços da fruta picada.
No congelador, puxa um saco plástico com dois pimentões:
— Esse é para Maria Helena fazer o peixinho dela.
Logo arremata outro saco, abrindo um sorriso largo:
— Agnolini. É que gosto de tomar sopa no domingo à noite.
Sartori voltaria a falar firme no debate daquela manhã, mas retomaria a serenidade na sequência, ao encontrar-se em uma sala de hotel com 60 pastores de igrejas evangélicas, ao lado do correligionário Thiago Simon, deputado estadual reeleito e filho do ex-governador Pedro Simon.
Na última agenda que a reportagem acompanhou, grudou no lado esquerdo do peito o adesivo do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Ali, firmando oficialmente o apoio de DEM e PSL à candidatura do governador, ganhava corpo a expressão "Sartonaro", que seria explorada nos dias seguintes de propaganda no rádio e na TV.
Ao final do discurso, Sartori emocionaria Onyx Lorenzoni, deputado federal e apontado como futuro ministro da Casa Civil, em caso de vitória de Bolsonaro. Na fala, citou um amigo comum: o fotógrafo Paulo Dias, que morreu em dezembro de 2014 vítima de um câncer na garganta. Onyx chorou.