— Sopra forte, Vento Norte; antes que essa chuva caia — cantarola com voz firme Eduardo Leite, 33 anos, com a palma da mão direita virada para um céu azul onde o sol brilha com força em meio às nuvens, no Parque da Redenção, em Porto Alegre.
Ventava forte naquele final de manhã de primavera, e o ruído por vezes forçava a interrupção da gravação de mais um episódio do programa de TV do candidato ao governo do Estado pelo PSDB.
— Poderíamos cantar Vento Negro, mas é da coligação adversária — brinca o tucano, em referência à canção assinada pelo deputado federal José Fogaça (MDB) — Quero ver a chinoquinha, segurar a sua saia — cantarola mais um pouco antes de se voltar para o texto sob o vento e os olhares de quem passava pelos arredores do espelho d'água.
Teve de trocar a camisa branca por uma azul para a gravação. E o fez ali mesmo, no estacionamento do parque, entre os carros da equipe que o acompanhava naquela manhã, cercado por assessores para não chamar muito a atenção.
— Eu não me considero um modelo de beleza e acho engraçado que as pessoas usem isso para me criticar. O problema é quando tentam me reduzir a isso. Tenho trabalho para mostrar — diz o ex-prefeito de Pelotas, citando ao longo de toda a manhã algumas das experiências e realizações em sua gestão no município, de 2013 a 2016.
Leite recebeu a reportagem de GaúchaZH em seu apartamento, no bairro Mont'Serrat, em Porto Alegre. A mesa posta era farta: frutas, iogurte, água de coco, sucos, café e pão francês.
— Isso aqui é só porque vocês vieram — entrega.
Ele nunca toma café da manhã em casa.
— No máximo, uma fruta que saio comendo porta afora.
Na noite anterior, havia participado de um debate de TV, que terminara por volta da meia-noite.
— Até baixar a adrenalina e conseguir dormir é outra história.
Quis saber sobre a troca de farpas de novo acirrada entre ele e o governador José Ivo Sartori (MDB), candidato à reeleição.
— Eu fui zero agressivo (no debate). Todo mundo me conhece muito bem e sabe como sou.
Incomodado, disparou:
— Não fui eu quem levou a esposa para o espaço político — em referência ao fato de Sartori ter nomeado a mulher, Maria Helena Sartori, como secretária de Desenvolvimento Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos.
Ainda à mesa, aponta para o porta-retrato em que posa ao lado dos irmãos Ricardo e Gabriel — apelidados de Cadico e Pichuco.
— E o teu? — pergunto.
— O meu era Dudu. Mas na escola todo mundo me chamava de Parmalat. Concorri ao Grêmio Estudantil com esse nome.
Na foto, os três estão na quadra da escola de samba carioca Portela.
— Somos uma família de sambistas.
Ao perceber minha desconfiança, puxa o celular do bolso para mostrar um vídeo em que aparece tocando pandeiro, numa versão familiar do clássico Ex-amor, de Martinho Da Vila.
— Viu? E meu pai ainda toca acordeão. Ele foi professor do Kledir (da dupla Kleiton e Kledir) — orgulha-se.
Foi a mãe do pai, Irene, que Eduardo Leite perdeu na véspera da disputa de sua primeira eleição à Câmara de Vereadores de Pelotas, em 2004.
— A família é que faz a gente relativizar tudo. O que era a minha não eleição se eu tinha acabado de perder a minha avó?
Quatro anos depois, disputou novamente e se elegeu, pela primeira vez, vereador na cidade onde nasceu.