Há coisas que só compreendemos se vivermos com o outro. Isso significa sair da “bolha”, desviar das telas e olhar nos olhos das pessoas ao redor. Na era de intransigência, Denise Fraga e Tony Ramos, dois gigantes do teatro brasileiro, deram aula de humanidade em Porto Alegre.
A peça O que só sabemos juntos lotou o Salão de Atos da PUCRS em quatro apresentações nos últimos dias. Estive lá. Cada exibição contou com a presença de 1.702 pessoas, levadas a refletir sobre questões pungentes do mundo contemporâneo. A principal delas (um dos males deste século) é a falta de escuta.
Todos nós, lembram Tony e Denise, temos casas de infância, cheiros que recordamos, lugares que preferimos estar. Temos até a boca do fogão que gostamos acender e aquela cadeira específica da mesa, naquele canto (aquele mesmo!) onde sempre nos sentamos. Não é assim?
Todos nós temos o que os atores chamam de “alfabeto comum”. Não se trata da língua, mas de um arsenal de sentimentos e experiências que, de alguma forma, nos conectam e que, de uns tempos para cá, deixamos de acessar e de perceber. A quebra dessa conexão virou o grande problema das relações atuais.
Quantas vezes você esteve ao lado de alguém sem realmente estar? Quantas vezes você ouviu sem de fato escutar? O celular passou a ser mais importante do que o outro e nos deixou distraídos, apáticos e alheios. Tony e Denise têm razão: precisamos recuperar a empatia. Urgentemente.