Com 63 anos de história e o nome de um dos mais importantes escultores gaúchos, o Atelier Livre Xico Stockinger, no Centro Municipal de Cultura de Porto Alegre, é alvo de um manifesto público. Artistas da Capital lançaram um abaixo-assinado pela recuperação da importância e do prestígio do espaço.
A ação é liderada pelo Movimento Livre Atelier Livre, pela Fundação Vera Chaves Barcellos e pelo Instituto Zoravia Bettiol — estes últimos, encabeçados por duas das mais respeitadas e premiadas artistas visuais do Rio Grande do Sul. Até a tarde desta terça-feira (22), cerca de 2,1 mil pessoas haviam subscrito o documento.
— O Atelier já foi um núcleo muito importante para a cidade, inclusive autossustentável do ponto de vista financeiro, mas se desfigurou ao longo dos anos — avalia Vera Chaves Barcellos, aos 86 anos.
O manifesto (destinado aos candidatos à prefeitura da Capital, Sebastião Melo e Maria do Rosário) pede que, ao final das obras de revitalização do Centro Municipal, o espaço retome “suas antigas atividades”, seja uma “nova vitrine cultural" e permaneça público.
Entre as reivindicações registradas no documento, estão a reestruturação de cursos e oficinas, o restauro e a aquisição de materiais danificados pela enchente, a recuperação da biblioteca, a retomada da formação de artistas e a realização de concurso para docentes. No passado, o local contou com mais de 20 professores no quadro fixo. Restam quatro concursados.
— O Atelier chegou a ter 1,5 mil alunos em três turnos. Era muito respeitado. Hoje, falta vontade política — diz Zoravia Bettiol, 88 anos.
O local ficou submerso em maio deste ano, devido à catástrofe climática, retomou as atividades em setembro e está em obras.
A reforma do Centro Municipal de Cultura foi viabilizada pelo Escritório de Reconstrução, como compensação por um projeto da CFL Empreendimentos, a partir de um termo assinado junto à prefeitura. A previsão é de que a revitalização integral do centro termine em 2025.
O que diz a diretora
Há dois anos e meio à frente do Atelier Livre, a psicopedagoga Thaís Amaral de Souza lamenta o teor do manifesto.
— Movimentos desse tipo são louváveis, desde que retratem a realidade. O Atelier está vivo e funcionando a pleno vapor. Reabrimos dois meses depois da enchente, em tempo recorde, e já estamos fazendo o que o documento reivindica. Tenho a impressão de que as pessoas envolvidas não visitam o local há muito tempo. Estão obsoletas — afirma Thaís, incomodada com as críticas.
Ela diz que as entidades organizadoras do manifesto são bem-vindas e que gostaria de mostrar e explicar o que está em andamento no local.
Conforme a diretora, a média atual de alunos é de 400 por semestre, o espaço tem 20 cursos regulares e, em novembro, terá mais 12 extras, inclusive com turmas de desenho e cerâmica para crianças de 8 a 13 anos — uma novidade.
Thaís reconhece que é necessário um novo concurso para professores e diz que já fez a solicitação à prefeitura.
— Enquanto isso não acontece, contratamos 12 docentes via edital para os cursos extras. Não estamos parados. Estamos fazendo tudo o que é possível. Quem lê o manifesto, pensa que o local está morto, mas não está — diz a diretora.