Não lembro ao certo quando ouvi pela primeira vez o "boa noite" de Cid Moreira na sala de casa, mas foi ainda menina - talvez, bebê.
De certa forma, o vozeirão do comunicador fazia parte da rotina da família, sempre ligada em telejornais e, em especial, no Jornal Nacional, da TV Globo. Lembro de escutar, algumas vezes, meu pai respondendo ao cumprimento, em tom de brincadeira, mas sempre com reverência.
Cid impunha respeito e credibilidade. Sua morte, nesta quinta-feira (3), aos 97 anos, marca o fim de uma era na televisão brasileira, assinalada por apresentadores que vinham, em sua maioria, do rádio e dominavam como poucos a arte da locução.
Muitos eram autodidatas e tinham como principal característica a fala empostada e formal, como nos comerciais e boletins radiofônicos daquele tempo. Era o formato da época, quando a TV em preto e branco e depois a cores ainda se popularizava no Brasil.
Cid Moreira começou no JN em 1969 e permaneceu por 26 anos ocupando uma das cadeiras de âncora do telejornal de maior visibilidade do país, até ceder lugar aos jornalistas da nova geração - começando por William Bonner, até agora no comando, e Lillian Witte Fibe.
Sim, o jornalismo profissional que conhecemos hoje ocupou o espaço dos medalhões e modernizou a forma de noticiar os fatos (mais coloquial e próxima das pessoas). Isso não apaga a importância dos precursores: a marca deles permanece viva na memória do telespectador e da telespectadora brasileiros e assim será por muito tempo.