Deu “match”. Posso dizer que Ana Amélia, Caroline, Daniel, Gisela, Marina, Matheus e Rosane são meus novos amigos. Até as 20h5min da última quarta-feira (31), nunca tínhamos trocado uma palavra sequer. Um jantar “às cegas” mudou tudo.
Sim, eu testei o aplicativo Timeleft, que reúne estranhos ao redor da mesa de jantar em 33 países — incluindo o Brasil e a cidade de Porto Alegre.
Escrevi sobre o tema em 13 de julho, aqui na coluna, quando decidi abrir uma enquete no Instagram (@ju_bublitz) para saber se deveria ou não me aventurar no “Tinder gastronômico”. Tinder, você sabe, é aquela plataforma de namoro online. O Timeleft é parecido, só que tem comida no meio e mais gente envolvida.
Não deu outra: 97% dos respondentes disseram que “sim”, eu deveria ser viver a experiência e contar tudo depois. Os outros 3% marcaram a alternativa “tá louca?”. Embora concordasse com a minoria, acatei, democraticamente, a decisão da maioria e cá estou, cumprindo minha promessa.
Fiz a inscrição no Timeleft e respondi ao questionário (espécie de “teste de personalidade”) do app, que conecta pessoas através da gastronomia, em restaurantes descolados, sempre às quartas-feiras, no mesmo horário.
A partir daí, o algoritmo cruza os dados do sistema, seleciona pessoas com afinidades e “bingo!”: você é convidado a reservar um lugar à mesa, desde que pague pelo serviço (o mínimo é R$ 39,99 por um encontro avulso, mas há pacotes mensais, trimestrais e semestrais).
Depois disso, na semana do evento, o aplicativo dá pistas sobre os convidados, como o signo de cada um e a área de atuação, de forma bem genérica, para manter o suspense. O local do compromisso é revelado apenas no dia, com o número da mesa. É quase um Kinder Ovo.
Meu jantar foi no restaurante Solos, que promete “comida do mar e dos sertões” e que eu queria conhecer há tempos. “Legal, uma boa oportunidade”, pensei. Mas e as companhias?
Quando cheguei à "mesa 2" (sim, havia uma outra, também ligada ao app), já estavam lá a Ana, a Marina, a Carol e o Daniel. Na sequência, apareceram os demais, e a Gisela (pronuncia-se Guísela, como ela mesma explicou), puxou a frente:
— Vamos nos apresentar?
Aí a coisa toda me lembrou o primeiro dia de aula, sabe? Isso não é uma crítica, ao contrário. Você é forçado a sair do seu mundinho, da sua zona de conforto, da tela do celular, e precisa falar. Simples assim. Difícil assim. E olha que estou acostumada a conversar com gente diferente todos os dias.
Achei por bem contar que era jornalista e que estava ali porque vocês mandaram. O pessoal riu, e a Ana disse que havia votado “sim” na tal enquete (rá!).
Descobri, então, que havia na turma duas psicólogas, uma contadora, um arquiteto, um empresário, uma servidora pública e uma administradora, todos solteiros (menos eu, o marido ficou em casa) e sem filhos. Todos na faixa dos 40 aos 50 anos, contemporâneos, portanto.
A maioria já havia participado de vários jantares do tipo (existem até grupos no Whats formados pelos participantes, dezenas deles). Tudo muito interessante. Um mundo de possibilidades.
A comida estava boa (pedi peixe na brasa), e a conversa fluiu bem. Houve momentos de silêncio, e aí parecia que alguém tinha de dizer alguma coisa para quebrar a sensação incômoda no ar (que, em geral, ocorre quando ainda não há intimidade). Nada demais.
Já sei que a turma deve estar lendo este texto. Para eles, um recado: adorei conhecê-los. Se eu faria de novo? Com certeza. Uma hora dessas, quem sabe, a gente se encontra por aí.