Não vai ser fácil. O Cais Embarcadero, em Porto Alegre, nem de longe lembra o lugar aprazível erguido à beira do Guaíba, que virou ponto turístico e ajudou a cidade a acordar para a importância cultural, social e econômica da área portuária. A enchente destruiu quase tudo, mas não abalou a crença na retomada.
Estive lá na manhã fria e chuvosa desta segunda-feira (3). Há móveis revirados, madeira retorcida, deques, passarelas e corrimões arrancados, pisos avariados, vidraças estilhaçadas, lama, lixo e areia (veja as fotos abaixo). Toda a rede elétrica e hidráulica terá de ser refeita. Parece que não foi apenas água. Parece que uma bomba caiu ali, tamanho o estrago.
O prejuízo inicial é estimado em pelo menos R$ 10 milhões, sem contar os danos nas áreas internas dos estabelecimentos. São 40 empreendimentos, e a avaliação da superintendência é de que 70% da estrutura, de alguma forma, acabou atingida, em maior ou menos escala.
Foi duro ver o impacto da enxurrada de perto, porque não são apenas perdas materiais. Há muito mais em jogo.
Desde a inauguração, em outubro de 2020, o espaço vinha gerando cerca de mil empregos diretos e indiretos. Ao longo dos anos, a área virou ponto de encontro de porto-alegrenses (de 50 mil a 60 mil pessoas a cada final de semana, em média) e um lugar legal para mostrar aos visitantes de fora. Eu mesma já levei muita gente ali, entre familiares e amigos.
Segundo dados da Secretaria Estadual de Turismo, entre 2021 e 2022, logo após a abertura dos portões, o número de pernoites na Capital aumentou 250%. O Cais Embarcadero, mais do que um bom negócio, virou um atrativo e uma amostra do potencial da cidade.
Agora, o desafio é imenso.
Será preciso esperar o Guaíba se estabilizar (nesta noite, a água voltou a subir em razão do vento Sul) para dar início à retirada dos entulhos e aos reparos. Só então será possível saber a extensão exata dos danos.
Os profissionais que atuam no Cais — desde o vendedor de churros até a dona da maior rede de gastronomia do sul do país — querem voltar e acreditam na recuperação. Para isso, reivindicam a ampliação do contrato de uso do espaço, que era de cinco anos e vence em 2026. Dois anos, na avaliação dos empresários, é um prazo exíguo diante do volume de investimento necessário.
Não vai ser fácil, mas o Embarcadero vai se recuperar. Tem tudo para isso.