Ela tem 27 dias e foi salva por um triz. Ou melhor: pela compaixão de uma menina de três anos. A porquinha Rose — como foi batizada desde que virou xodó no abrigo do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), em Porto Alegre — é mais um símbolo de resistência nesses dias tão difíceis que temos vivido no Rio Grande do Sul.
Quando a água do Guaíba começou a subir pelas ruas da Ilha Grande dos Marinheiros, na região das Ilhas, na Capital, a recicladora Andressa Moraes Ramos, 25 anos, só conseguiu pensar em salvar os três filhos — Isadora, 3 anos, Ângelo, 8, e Augusto, 10.
Na correria para sair de casa, ela percebeu que a menina levava consigo um pequeno volume sob a blusa: era a filhote suína, do tamanho da palma da mão de um adulto. Andressa olhou para Isadora incrédula.
— É o meu bebê, mamãe — disse a pequena, sem soltar o animal.
Andressa, Isadora, Ângelo, Augusto e Rose chegaram ao Cete no dia 3 de maio. Ali, todos receberam cuidados, inclusive a mascote (com direito a veterinária e leite na mamadeira). Desde então, Rose dorme aos pés de Isadora e se comporta bem — exceto quando quer mamar. Aí, faz aquela gritaria até ser atendida.
Estive lá e vi o carinho que todos nutrem pelo bichinho, que lembra o protagonista do filme "Babe, o porquinho atrapalhado". Fiz carinho na cabeça de Rose e, conversando com Andressa, descobri que a leitoa é a única sobrevivente da ninhada. A mãe e os demais filhotes não resistiram à força da enchente, apesar das tentativas de resgate. O quintal (onde ficavam os bichos) e a casa da família, com sala, cozinha, três quatros e banheiro, ficaram submersos.
Andressa perdeu tudo, mas não perdeu o sorriso e a fé no futuro. Ela me disse que vai reconstruir tudo o que perdeu. E quanto a Rose?
— Vai morrer bem velhinha do meu lado — respondeu a recicladora.
Como ajudar
- Se você quiser ajudar Rose e sua família, o pix de Andressa é o número do celular: (51) 981329563.
- Apoie também o abrigo do Cete. Doações na Rua Gonçalves Dias, 700, Menino Deus, na Capital, todos os dias, das 9h às 18h. Eles precisam de cestas básicas (arroz, feijão, macarrão, óleo, sal, café, etc.), alimentos para consumo imediato (bolachas, leite, chocolate, etc.), materiais de limpeza e produtos de higiente.