No Dia Internacional da Mulher, o destaque da coluna é uma gaúcha que tem levado o Rio Grande do Sul - e o Brasil - em suas andanças pelo planeta, movida pela paixão por uma arte ancestral: o teatro de animação, ou de bonecos (embora seja muito mais do que isso), como também é conhecido. Nascida em Erechim e criada em Carazinho, Nina Vogel é do mundo.
Enquanto você lê estas linhas, ela passa uma temporada em Calgary, no Canadá, como artista convidada, com uma série de apresentações, oficinas e palestras. Nos meses subsequentes, a gaúcha que conquistou reconhecimento internacional por suas criações passará por Dakar, no Senegal, pelo Japão profundo e por Taipei, em Taiwan, entre outras paradas.
Na África, Nina visitará a aldeia de Ndayane, ao sul de Dakar, a convite de Mamby Mawine, artista de renome mundial que criou o Polo Cultural Djaram'Arts, um centro de ensino de artes, educação e agroecologia. Lá, ela irá compartilhar, ao lado de Mamby, o que sabe sobre o teatro Lambe-Lambe (teatro em miniatura, para uma pessoa por vez)
— Serei assistente e intérprete em um workshop para que as artistas locais possam construir suas caixas e espetáculos e aprender a realizar produções de maneira independente. Isso é muito importante e é, também, uma oportunidade de autonomia — conta Nina.
De lá, depois de uma nova passagem pelo Canadá, em Toronto, onde prepara um filme subaquático com marionetes "invisíveis", como já mostrei aqui na coluna, a criadora fará uma residência artística no Japão.
Entre outros compromissos, Nina será recebida em Washi por uma família tradicional para aprender algo novo: a fabricação do papel artesanal que leva o nome da cidade, feito a partir de fibras de plantas, muito apreciado no mundo, inclusive, por quem trabalha com a criação de personagens lúdicos, como Nina.
Ela também passará por Kochi, na ilha de Shikoku, para uma imersão de quatro semanas a convite da organização La Forêt, para a pesquisa de indumentária, músicas e da cultura local. Lá, a artista irá ministrar um workshop sobre como dar voz e vida a marionetes e apresentará uma nova perfornance, com participação do músico Taichiro Omira, de Tóquio.
A viagem a Taiwan será igualmente especial, com a agenda cheia de atividades, incluindo palestras na universidade, cursos e oficinas para o público e uma apresentação final, com um projeto chamado Econ'Action (Connection) - em um trocadilho, não por acaso, com a palavra ecologia.
— Fui a única artista mulher selecionada em uma competição mundial de multiartistas para uma residência de sete semanas na Lizé Puppet Art Colony, potência mundial do teatro de animação contemporâneo — destaca Nina, inquieta.
Ela não para. É uma mulher apaixonada pelo que faz, inconformada por natureza e disposta a deixar sua marca por onde passa. Não consegui traduzir nem metade de tudo o que ela planeja para 2024, mas uma coisa é certa: onde estiver, Nina levará encanto e magia, algo que o mundo nunca precisou tanto. A arte existe, como já disse Ferreira Gullar, porque a vida não basta. Nina sabe disso.