Perdi as contas de quantas vezes, ao longo da minha vida porto-alegrense, ouvi a mesma pergunta, nas mais variadas situações. No caixa do supermercado, na catraca do ônibus, em entrevistas e na farmácia da esquina: foi (e é) sempre assim, desde os tempos da faculdade. Quando menos espero, vem a interrogação:
— És parente da Vera Bublitz?
Ou, então, a mesma dúvida, de um jeito diferente:
— És bailarina?
— Esta sabe dançar!
Quem lê a coluna já percebeu minha queda pelas artes em todas as suas formas: amo teatro, música, canto, esculturas, pinturas, desenhos e… sim, a dança, apesar de ser uma descoordenada incorrigível. Jamais acerto o ritmo, mas danço mesmo assim, sempre que posso, feliz e descompassada, pisando nos pés dos outros. Vera que me perdoe! Já digo logo: ela não tem nada a ver com isso.
Só fui conhecê-la em junho de 2019, quando levei meus pais, no meu aniversário, para assistir a um dos tradicionais espetáculos do Festival Internacional de Dança de Porto Alegre, promovido pelo famoso Ballet Vera Bublitz, no Theatro São Pedro. Vimos a fundadora da companhia no Foyer, nos apresentamos e, claro, pedimos uma foto com ela (veja abaixo).
Depois disso, não nos vimos mais, mas sigo acompanhando o trabalho dela e de sua família (minha também?) com admiração - ah, eu também não vendo quadros nem tapetes, só para deixar claro, ainda que seja fã da Galeria Bublitz.
Nunca escrevi sobre isso, justamente por ter o mesmo sobrenome - poderia soar, afinal, como “propaganda em causa própria”. Mas Vera merece.
Nesta segunda-feira (19), ela completa 80 anos de vida em plena atividade, cheia de planos e de sonhos, com mil atividades programadas para 2024. É um exemplo a ser seguido, dentro e fora dos palcos. Não é pouco o que esta mulher construiu.
Fundado em 1979 em Porto Alegre, o Ballet Vera Bublitz é um patrimônio gaúcho. Ao longo de 45 anos (temos a mesma idade!), a companhia recebeu nomes internacionais da dança e projetou talentos para o mundo. É uma fábrica de bailarinos, uma potência que eleva o nome do Rio Grande do Sul e que prova, na prática, o valor da cultura e da economia criativa.
Vera e sua equipe têm vocação para brilhar e fazer brilhar.
Quando me perguntam se sou parente dela, digo que sim, com muito orgulho. Vai que um dia ela me ensine a dançar?