Em 1998, em uma festa no icônico bar Ocidente, na Capital, nascia Cassandra Calabouço, Cassie para os mais íntimos. A convite do amigo Antonio Rabadan, um dos mais badalados figurinistas do teatro gaúcho, o bailarino, ator e performer Nilton Gaffrée Júnior aceitou o desafio e “se montou” pela primeira vez. Desde então, são 25 anos de sucesso na cena Queer porto-alegrense.
No começo, não foi fácil. Era uma época em que "o homem não podia dar pinta de gay", recorda Nilton. O preconceito reinava, e o universo das drags não estava consolidado como hoje.
— Isso era um pouco frustrante para mim. Eu vivia brincando nos bastidores dos espetáculos dos quais participava como bailarino. Sempre gostei de usar salto e de divertir as pessoas com performances. Mas não tinha coragem para fazer isso em público — confidencia ele.
De tanto Rabadan insistir, Nilton finalmente concordou: a estreia de Cassandra Calabouço (nome sugerido por um antigo cabeleireiro, leia mais abaixo) foi na celebração de aniversário do figurinista. E a festa aconteceu no mais famoso bar do bairro Bom Fim, que hoje tem 42 anos e é um patrimônio da noite de Porto Alegre.
O sucesso foi tanto que, depois disso, Cassie ganhou vida e passou a ser chamada para animar ocasiões especiais (como casamentos, formaturas e até batizados), eventos corporativos (inclusive celebrações de fim de ano de grandes empresas), desfiles de moda e festas de aniversário "dos 9 aos 90 anos", como diz Nilton.
Vinte e cinco anos depois daquela primeira exibição, a drag queen mais famosa da capital gaúcha (perdoem-me as outras!) vai voltar ao Ocidente para comemorar 25 anos em grande estilo. Será no próximo domingo (12), a partir das 18h, com o "Baile da Calabouço" (ingressos aqui), que terá uma série de convidados e participações especiais.
— Vai ser tipo matiné, porque eu estou velho, né? — brinca Nilton, que tem 50 anos, já dedicou metade da vida a Cassandra e também está completando três décadas de dança (para quem não sabe, ele inclusive ganhou o Prêmio Açorianos de melhor bailarino em 2010).
Novo espetáculo
No fim do mês, nos dias 24, 25 e 26 de novembro, o público ainda poderá conferir a estreia do espetáculo "Onde está Cassandra?". No show, cinco drags (Cassandra, acompanhada de Alpine, LadyVina, Savanah Queen e Zélia Martínez) farão um passeio por coreografias, cenas e números especiais, tendo como linha narrativa a trajetória de Cassie. O espetáculo será no Teatro Bruno Kiefer, na Casa de Cultura Mario Quintana.
Por que Cassandra
A história do nome da drag queen remonta a 1989. Nilton havia acabado de receber um fora de uma namorada, quando foi cortar o cabelo. Percebendo que o cliente e amigo estava triste, Paulo, o cabelereiro, quis saber o que havia acontecido. Ao ouvir a história, ele disse:
— Não fica triste, um dia tu ainda vais ser uma grande drag queen.
Nilton, que não havia se descoberto gay, ficou bravo e repreendeu Paulo, que rebateu assim:
— Vai sim, e vai se chamar Cassandra Hills. Melhor: Cassandra Calabouço, porque vai ficar presa a maior parte do tempo e vai sair só de vez em quando.
