Durante 56 anos, entre 1955 e 2011, o Cine Brasília, em Carazinho, no Norte do Estado, se manteve firme como um dos raros remanescentes dos cinemas de calçada no Rio Grande do Sul. A sala marcou época sob o comando de três gerações da mesma família, virou documentário (exibido no programa Curtas Gaúchos, da RBS) e só parou de funcionar após a morte de seu dono, Marco Simon, em agosto 2011.
Hoje, por iniciativa de uma de suas filhas, a arquiteta Lisiara Simon, três das históricas poltronas da casa podem ser vistas - e utilizadas - em Porto Alegre. Elas fazem parte do Spiro Café, criado por Lisiara para uma das maiores mostras de decoração, paisagismo, arquitetura e design da América Latina, a CasaCor RS.
— É uma linda recordação, com uma memória afetiva incrível, e também uma homenagem ao meu pai, que foi o último a apagar a luz no Cine Brasília. Ao mesmo tempo, é uma forma de reaproveitar peças e não simplesmente se desfazer delas, seguindo os princípios da economia circular — explica Lisiara, da Trino Arquitetura.
Em perfeitas condições, as cadeiras receberam apenas um novo tecido nos estofados, onde já se acomodaram milhares de pessoas.
Até início da década de 1990, o cinema manteve o primeiro andar e a tribuna de honra em plena operação, com cerca de 1,2 mil lugares. A partir dali, com o avançar da crise das casas de exibição nas ruas, o térreo acabou dando lugar a uma rede de lojas, restando apenas a tribuna, preservada mais por idealismo do que pelo lucro das bilheterias. O local, segundo Lisiara, segue conservado, apesar de já não exibir mais filmes.
No café criado pela arquiteta, as poltronas foram estrategicamente posicionadas junto a uma porta de vidro, sob antigas luminárias compradas em antiquário. Tu é fruto de reuso. A ideia, segundo Lisiara, é que as pessoas se sintam acolhidas em um ambiente que une história (e que história!) e pegada sustentável.
A CasaCor RS está aberta a visitação até 22 de outubro, na Rua Carlos Trein Filho, nº 705, bairro Bela Vista, em Porto Alegre.