Se você vive em Porto Alegre ou em qualquer conglomerado urbano do Rio Grande do Sul, basta abrir a janela e olhar para os postes mais próximos: lá estará ela - confusa, vasta, caótica, inacreditável -, a fiação em excesso. Está cada vez mais difícil encontrar uma rua ou avenida onde não haja um emaranhado de cabos.
Com a câmera nas mãos, o repórter fotográfico Anselmo Cunha saiu a andar pela Capital com os olhos virados para o céu. Voltou para a redação de GZH com uma coleção de imagens que poderia muito bem dar origem a uma exposição artística (a arte - vale dizer - nem sempre é bela; pode ser horrenda e contestadora). Já tenho até um título para sugerir ao Anselmo: “Ensaio sobre a Feiura”.
Enquanto escrevo, observo a teia intrincada aqui na frente de casa. Em vão, tento contar os fios: 10, 20, 30... Estão tão embolados que a tarefa se torna impossível. Dá para acreditar? Dá, sim. Você - não duvido - deve vivenciar a mesma experiência, dependendo de onde estiver, e não falo apenas de Porto Alegre.
Apesar dos esforços do poder público e de empresas envolvidas, mexer na rede é como meter a mão no vespeiro, como se diz no Interior.
Se fosse simples, já estaria resolvido. São ligações de energia, de telefonia e de internet de diferentes companhias - não raro, são mais de 20. Parte dos cabos está em uso. Parte, não. E os fios "não têm nome". Isso torna o trabalho difícil, mesmo nos mutirões que vêm sendo realizados em diferentes municípios - nesta terça-feira (22), por exemplo, haverá mais um deles em Santa Maria.
Ao que parece, embora o problema não seja novo (está todas as semanas nos jornais e nas redes sociais), as leis também não dão conta da complexidade do tema. Na Capital, desde 2018, há previsão de multa para as companhias que não retiram os fios ociosos e, desde abril de 2023, a legislação determina que, em 15 anos, toda a infraestrutura seja subterrânea.
É uma ótima ideia, mas será que sai do papel? Depende de muitos fatores e de muitos atores. Cabe a nós, cidadãos, fiscalizar e cobrar resultados. Porque do jeito que está não pode continuar.
Alguns números
Para se ter uma ideia do tamanho do desafio, só em Santa Maria, desde 2022, mutirões já retiraram duas toneladas de fios ociosos das ruas da cidade. Em Caxias do Sul, em uma das ações realizadas neste ano, chegaram a ser removidas 5 toneladas de fiação sobressalente em apenas 500 metros de rede.