Quem tem filhos ou crianças próximas, já sabe que a luta para limitar o uso das telas na rotina da garotada é inglória. Demonizar o acesso à tecnologia - e tudo o que ela oferece - acaba sendo um tiro no pé. Ainda que nós, mães, pais, avós, dindos e dindas, sejamos analfabetos em games e afins, não dá mais para voltar atrás. O que fazer, então?
Chegou às minhas mãos um baita livro, recém-saído do forno, chamado Crianças bem conectadas (Editora Maquinaria, 224 páginas). Escrito pelos psiquiatras Daniel Spritzer e Laura Moreira, pelas psicólogas Juliana Potter e Aline Restano e pelo pesquisador e coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da PUCRS, Bernardo Bueno, o trabalho é um primor. Vale muito a leitura.
De forma simples e acessível, os especialistas gaúchos provam, por A mais B, como o uso consciente da tecnologia pode se tornar um aliado da família e da escola. Contam casos, falam de etiqueta digital, dos riscos e potenciais, do "medo de ficar fora", da relação entre tecnologia e solidão. Explicam termos, dão dicas práticas e orientações, em uma conversa franca e honesta.
A ideia básica é a seguinte: já que não podemos simplesmente proibir tudo, melhor aprender a tirar proveito disso. Só que só funciona se a gente abrir a cabeça e entrar na jornada junto dos nossos pequenos - inclusive pedindo a eles que nos ensinem. É impossível travar uma guerra contra o digital, porque nossa vida já é mediada e facilitada por essas ferramentas.
O primeiro passo é parar de achar que a infância de hoje é pior do que foi a nossa. O mundo mudou, e os nativos digitais (que já nascem praticamente conectados) têm outro jeito de pensar.
— A conversa sobre a tecnologia não pode começar só na adolescência, tem de ser já na primeira infância. Os valores que passamos nessa época ficam mais presentes. Tirou uma foto do filho? Pergunte a ele se pode enviar para a avó no Whats, se ele concorda com isso. Na hora do almoço, diga que vai deixar o telefone de lado para não atrapalhar. Tem de ser algo natural. As crianças captam tudo — diz Aline.
O lançamento do livro é neste sábado (5), a partir das 16h, na Livraria Santos, do Pontal Shopping, em Porto Alegre. Também já está prevista uma sessão de autógrafos na Feira do Livro da Capital às 17h do dia 12 de novembro. Vale seguir o perfil @criancasbemconectadas no Instagram.
Os autores
Aline Restano, Juliana Potter, Laura Moreira e Daniel Spritzer integram o Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas (Geat), coletivo formado por psiquiatras e psicólogos que estudam o tema da dependência à tecnologia há mais de 15 anos, coordenado por Spritzer. Bernardo Bueno trabalha, entre outros temas, com a área da tecnologia e está à frente do Laboratório de Humanidades Digitais da PUCRS.
Cinco dicas práticas
- Esteja presente
Isso significa jogar junto (ou ao menos tentar), assistir e pedir para a criança explicar; vale para jogos, aparelhos, computadores, redes sociais e brinquedos. Sempre que um adulto demonstra interesse genuíno, a criança tende a ter prazer em compartilhar. Se deixarmos para fazer isso só lá na adolescência, fica mais difícil.
- Peça ajuda dos filhos
Muitos pais e cuidadores, por não serem tão inseridos no mundo digital quanto as crianças, se sentem desencorajados e acabam participando menos da vida online dos filhos. Nessas situações, a dica é buscar a ajuda dos verdadeiros especialistas: seus filhos! As crianças não esperam que os adultos saibam.
- Dê o exemplo
Precisamos ensinar a criança a se monitorar. Ela precisa ir aprendendo a pensar: será que estou jogando há muito tempo? Como esse jogo ou aplicativo me faz sentir? Será que estou ficando irritado demais? Ah, e não adianta forçar um monte de regras, se os pais não as seguem. Temos de entender que as crianças estão sempre atentas aos adultos à sua volta. É preciso dar o exemplo.
- Lado positivo
É sempre bom reforçar o lado positivo do mundo virtual. Há riscos e perigos, mas também vantagens e alegrias. Tudo é uma questão de equilíbrio. Lembre sua criança de como a tecnologia é útil para fazer contato com amigos e família, se divertir, pesquisar, aprender, trocar memes engraçados, ajudar quem precisa.
- Plano de mídia
A Academia Americana de Pediatria recomenda que cada família monte o seu Plano de Mídia Familiar. Quanto mais cedo, melhor. Isso inclui, por exemplo, desligar as telas ao menos uma hora antes de dormir (para não interferir no sono) e estabelecer áreas sem tela (como a mesa de refeições).