O fascínio de Ingrid Pelisoli pelos corpos celestes começou quando ela ainda era uma criança. Deslumbrada, ela viu o avô apontar para o firmamento e mostrar a constelação de Órion, onde ficam as famosas "Três Marias". Quis saber, então, quantas estrelas havia no céu.
— Mais do que tu podes contar — disse o avô.
Por anos, o assunto intrigou a menina nascida em Osório, no Litoral Norte, mas a curiosidade acabou ficando adormecida. Ela não imaginava que a Astronomia pudesse ser uma carreira possível, até que, por um daqueles mistérios do destino, tudo mudou. Ainda na escola, em Porto Alegre, teve contato com bons professores, que a encorajaram a levar o sonho adiante.
Ela estudou e estudou muito. Concluiu o curso de Física na UFRGS e obteve bolsas de mestrado e doutorado. Tornou-se especialista em estrelas anãs brancas, que também podem ser chamadas de “fósseis estelares”. Traduzindo: Ingrid pesquisa estrelas “mortas” para entender o passado e tentar prever o futuro do universo.
Por anos, juntou dinheiro para participar da principal conferência de sua área, na Universidade de Warwick, no Reino Unido. Foram dias e noites preparando a apresentação. Deu tão certo que a pesquisadora gaúcha seria convidada a passar uma temporada lá. De novo, graças a uma bolsa de fomento pública, ela ficou seis meses em Warwick. E não parou mais.
Depois de dois anos de trabalho na Universidade de Potsdam, na Alemanha, ela retornou a Warwick em 2020 para dar continuidade ao projeto. Desde então, conseguiu duas prestigiadas bolsas internacionais, entre elas a Ernest Rutherford Fellowship, em março deste ano. A iniciativa é destinada a financiar jovens líderes mundiais na Física e na Astronomia.
Aos 32 anos, Ingrid ainda não encontrou a resposta exata para a pergunta feita ao avô mais de duas décadas atrás. Mas é a prova de que vale a pena ter a ousadia de sonhar. Nada, nada é impossível.