Conhecida pela forma firme e serena como conduziu o enfrentamento da pandemia em seu país e por ser uma das líderes mundiais mais promissoras de sua geração, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, jogou a toalha. Como ela mesma disse, "simples assim". Surpreendeu eleitores, jornalistas e até políticos próximos com um anúncio franco e direto feito na noite da última quarta-feira (horário do Brasil).
Jacinda soube a hora de parar.
No pronunciamento, a chefe de Estado disse que "liderar um país é o trabalho mais privilegiado que qualquer um pode ter" e que "você não pode e não deve ocupá-lo, a menos que tenha um tanque cheio com um pouco mais na reserva". Falou dos desafios que teve de encarar durante os seis anos em que liderou a nação, mas foi clara:
— Não estou deixando o cargo porque isso foi difícil. Se esse fosse o motivo, eu provavelmente teria saído com apenas dois meses na função. Estou saindo, porque, com um papel privilegiado, vem junto a responsabilidade. A responsabilidade de saber quando você é a pessoa certa para liderar e também quando não é. Eu sei o quanto esse trabalho demanda. E eu sei que não tenho mais o suficiente "no tanque" para fazê-lo. É simples assim.
Jacinda verbalizou o óbvio: é apenas humana - os políticos, enfim, também o são, embora alguns transitem nos pântanos e nas sombras. Contou estar ansiosa "para passar um tempo" com a família outra vez, prometeu à filha estar presente no início do período escolar e até avisou ao companheiro que, agora sim, poderão se casar. Agradeceu aos neozelandeses pela "oportunidade de servi-los".
— Nós damos tudo o que podemos, pelo tempo que pudermos, e então chega a hora. E, para mim, ela chegou — concluiu a primeira-ministra.
Jacinda soube a hora de parar. Isso nem sempre é simples e vale para qualquer um de nós. Não é fácil admitir que "não pode mais", que "acabou a energia", que é melhor sair de cena e dar espaço a outra pessoa em melhores condições, que é necessário dar um passo atrás, ainda mais quando se trata de um posição de destaque. Às vezes, é preciso ter humildade para simplesmente desistir.