Há exatos 20 anos, no dia 21 de novembro de 2002, Zero Hora publicava uma entrevista exclusiva com o futuro ministro da Fazenda do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Antonio Palocci acabara de renunciar à prefeitura de Ribeirão Preto (SP) para se juntar ao primeiro escalão da gestão do PT. Oficialmente, no entanto, não estava definido que Palocci ocuparia a pasta, embora fosse a maior possibilidade. Casa Civil e Planejamento também eram cogitações.
Mesmo assim, Palocci foi considerado o primeiro ministro anunciado do novo governo. A função foi confirmada nos dias seguintes, mas ali o petista já dizia o que hoje soaria como música para quem está nervoso com a responsabilidade fiscal no terceiro mandato de Lula. “Não podemos financiar nosso projeto com inflação”, disse Palocci, afirmação que foi o título da entrevista. Ficava claro, assim, que não haveria gastança para cumprir as promessas sociais.
Realista, o futuro ministro respondia que o grande desafio do governo Lula era compatibilizar os compromissos com a população mais carente com as restrições do orçamento. Em suas palavras, “reduzir a distância entre aquilo que nosso programa prevê e as possibilidades orçamentárias do país”. Em linguagem simples, demonstrava entender que se o comprometimento em elevar a renda dos mais pobres levasse a alimentar a inflação, seria “como se desse com uma mão e tirasse com a outra”.
Palocci, nos anos seguintes, foi do céu ao inferno com os episódios de corrupção envolvendo o governo petista, mas essa é outra história. Interessa, aqui, lembrar qual foi a cartilha exitosa da época, equilibrando responsabilidade social e fiscal. E que, duas décadas atrás, a esta altura o futuro governo já tinha um nome confirmado para tratar do tema, evitando ruídos.