Foi uma briga feia, “de rinha”, como se diz no Interior. As eleições de 2022 ficarão marcadas não apenas pela virulência e pela profusão de bizarrices, mas, mais do que isso, pelo fim de antigas amizades e por cisões familiares irremediáveis. Serão feridas difíceis de sarar.
Neste domingo (30), a maioria dos eleitores deu a vitória ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), algo inimaginável até pouco tempo atrás. Mas isso não significa que tudo esteja resolvido. O resultado foi apertado. Há uma legião inconsolável de insatisfeitos.
Embora tenha triunfado, Lula é e continuará sendo rejeitado por quase metade do Brasil. Terá desafios colossais pela frente, e o primeiro deles não será de ordem econômica, como sugerem alguns analistas. Será pacificar a nação, se é que isso ainda é possível.
Todos sabemos que a polarização não vai acabar. Lula venceu, mas não recebeu carta branca. Será mais cobrado do que nunca, inclusive por aqueles que passam ao largo do petismo e só votaram nele por ter se tornado a única alternativa a Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno.
O fato é que não haverá margem para erros, e isso começa desde já. Cabe à esquerda baixar o tom e dar o primeiro passo para a necessária reconciliação nacional. Os divergentes devem ser respeitados. Lula, que teve uma vitória pessoal inquestionável (ainda que acirrada), deixou claro, no discurso da vitória, que sabe disso e contará com o apoio de nomes como Geraldo Alckmin e de Simone Tebet, duas vozes reconhecidas e ponderadas na campanha.
- Esse país precisa de união. É hora de baixar as armas que nunca deveriam ter sido empunhadas - declarou o político, prometendo um mandato de diálogo, para todos os 215 milhões de habitantes.
Dos vencidos, espera-se que aceitem a decisão soberana das urnas, como exige a democracia. Perder não é fácil para ninguém, muito menos em uma situação como essa, mas é preciso reconhecer que, nesse jogo, não há prorrogação. O país não aguenta um “terceiro tempo” e nada tem a ganhar com ameaças golpistas. Violência também não é uma opção aceitável.
Concordemos ou não com a escolha da maioria, a vida segue. E o Brasil merece paz.