Há um abismo entre a “história oficial”, aquela que no passado se contava nas escolas, e a revisão empreendida por historiadores preocupados em mostrar - com base em documentos e pesquisa -, o que de fato aconteceu naquele setembro de 1822. Dom Pedro estava mesmo montado em um cavalo, com a espada em riste, quando bradou o famoso e heroico grito? Por que e por quem foi construída essa imagem? A quem interessa celebrar um evento que “não foi bem assim”?
Todas essas perguntas (e mais algumas) endossam os argumentos de quem preferiria “cancelar” (para usar um termo da moda) as celebrações da Independência - um marco histórico que sempre foi alvo de instrumentalização política, agora mais do que nunca.
Não faço parte desse grupo, embora reconheça tudo o que escrevi acima - sou doutora em História Social. A Independência ocorreu. Não foi um movimento popular e orgânico, não envolveu ruptura radical, não sepultou a vergonhosa escravidão (o que levaria ainda 66 anos). Mas aconteceu e é (ou ao menos deveria ser) uma oportunidade de reflexão.
Como diz a antropóloga Lilia Schwarcz, temos de ver a Independência, nesses 200 anos, “como portadora do futuro”. Que Brasil queremos? Nessa batalha de narrativas que vemos todos os dias, qual nos representa?
O Brasil que eu quero não é um país nostálgico de algo que talvez nunca tenha ocorrido. Não é uma nação eivada de preconceitos, de gente incapaz de respeitar o que o outro tem a dizer. Também não é um palanque para discursos de ódio nem terra de desigualdade, miséria e fome. O Brasil que eu quero é um país que olha para o passado para escrever um novo futuro. E você?