Depois que escrevi sobre o famoso lustre do Theatro São Pedro (TSP), em Porto Alegre, recebi uma enxurrada de mensagens. Uma delas veio a jornalista Tânia Carvalho, que presidiu a Associação de Amigos do TSP.
Apaixonada pela tradicional casa de espetáculos, Tânia acrescentou mais um belo capítulo à história do lustre, concluído em meados da década de 1980, na Capital: a execução do projeto, veja só, coube à antiga Metalúrgica Vanoni, que marcou época na cidade e no país.
Por intermédio de Tânia, conversei com o publicitário Duddu Vanoni, filho de um dos proprietários da extinta companhia. Ainda menino, Duddu teve o privilégio de testemunhar de perto o processo de criação do castiçal de quatro metros de comprimento, 600 quilos e mais de 30 mil cristais:
— Na adolescência, eu ia até a metalúrgica (na Rua Dr. Barros Cassal) depois do colégio para almoçar com meu pai (Antônio Vanoni, que era um dos sócios da empresa, junto do irmão, Eugênio, ambos já falecidos). Vi a montagem do lustre no meio da fábrica. Era enorme, lindo, com pedras tchecas. Ocupava grande parte do espaço. Até hoje, é um motivo de muito orgulho para a nossa família.
O publicitário recorda, ainda, de ver a ex-presidente da Fundação Theatro São Pedro, Eva Sopher (1923-2018), circulando pelo local. Eva acompanhava tudo de perto - foi ela quem conduziu a última grande reforma do São Pedro, entre 1973 e 1984. Em certo momento, relembra Duddu, os cristais tchecos ficaram presos na alfândega. Graças à eterna guardiã do teatro, a situação se resolveu.
— A dona Eva conseguiu agilizar o processo — conta ele.
A Metalúrgica Vanoni funcionou entre os anos de 1930 e 1990 e se destacou pela larga experiência adquirida no ramo. Além do candelabro principal do São Pedro (e dos demais, menores), produziu outros lustres para grandes palcos do país, entre eles o do Teatro Pedro II, em Ribeirão Preto (SP) - uma verdadeira obra de arte, assinada por Tomie Ohtake (com 26 lâminas de cristal e mais de uma tonelada). A companhia também foi a responsável pela criação e, mais tarde, pelo restauro dos lustres da Biblioteca Pública do Estado e do Palácio Piratini, entre outros projetos de destaque.
Ao saber da conversa que tive com Duddu, o diretor operacional do TSP, João Antônio Pires Porto, que trabalha há 35 anos no local, fez um convite.
— Ficaríamos muito felizes em receber a família Vanoni no teatro, para que nos conte mais detalhes. A dona Eva tinha toda essa memória, mas muito do que ela sabia, infelizmente, se perdeu quando ela nos deixou — diz Porto, outro apaixonado pela instituição.