São mais de 30 mil cristais, 96 lâmpadas, 600 quilos e quatro metros de comprimento. Como uma joia fulgente, o lustre do Theatro São Pedro, em Porto Alegre, fascina expectadores e ilumina um dos mais tradicionais palcos do Brasil.
A cada início de temporada (e sempre que necessário), o gigante dourado é levado até o solo com o auxílio de cabos de aço - e da força física de quatro a cinco homens. Neste ano, o ritual acaba de se repetir (veja as fotos acima).
— As lâmpadas foram revisadas e os cristais, lavados e recolocados no lugar. É sempre especial ver as pedras de perto, tocar nelas. É uma honra cuidar de algo tão precioso — diz o diretor operacional da casa, João Antônio Pires Porto, que trabalha há 35 anos no local.
De certa forma, o lustre do São Pedro, inaugurado em 1858, simboliza a história de resiliência e regeneração do próprio teatro - vinculado à Secretaria da Cultura do Estado.
Nos idos de 1880, o candelabro original - um presente do governo francês à Província de São Pedro do Rio Grande do Sul - sumiu. Não se sabe bem como, mas o objeto com 68 mangas de cristal (e um dispositivo para evitar que a cera das velas caísse sobre o público) teria sido encontrado em Rio Pardo, sem parte dos pingentes. O atual candeeiro é uma reprodução dele, confeccionada na Capital, na última grande reforma do espaço cultural.
Em 1973, corroído por cupins e ameaçando cair, o edifício teve de ser fechado. À época, coube a Eva Sopher (1923-2018) liderar a recuperação, com orientação técnica do arquiteto Carlos Antônio Mancuso. Todo o miolo do teatro foi refeito. Durante anos, restaram apenas as paredes entre os andaimes. Foi uma revolução.
O forro recebeu nova pintura, retratando exemplares da flora e da fauna nativas, e o velho lustre - já sem as velas - foi recriado. Na reinauguração de 1984, o castiçal de luxo renasceu ainda mais belo e reluzente, tal qual o Theatro São Pedro.
A SABER
Na próxima reforma do teatro (que deve começar em 2023, para adaptar a casa às atuais exigências de acessibilidade e prevenção contra incêndio), o mecanismo de tração do lustre ganhará um motor. A medida, segundo o presidente da Fundação Theatro São Pedro, Antonio Hohlfeldt, vai facilitar o trabalho de conservação e dar maior segurança ao procedimento, hoje totalmente manual.