Em 1993, quando Nelson Wilbert, gaúcho de São José do Ouro, se formou no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a percepção era de que a pintura - veja só - estava fadada a morrer. Pintar era uma atividade fora de moda.
Inconformado, Wilbert resistiu. Durante anos, rejeitou o rótulo de artista plástico e se definiu como pintor. Transformou o estúdio em trincheira e teve a ideia de camuflar suas criações - uma saída encontrada para continuar pintando. Acabou renovando a arte visual no Estado e conquistando fama nacional.
— Quando diziam que a pintura morreria, eu me perguntava: e agora? Eu queria pintar, essa sempre foi a minha essência. Pensei, então, em fazer as pinturas camufladas, para passar quase despercebido, como uma forma de resistência — conta.
Para concretizar o plano, Wilbert criou um processo singular de produção. Primeiro, ele usa o computador para sobrepor imagens - misturando faces icônicas da história da arte (como a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci) e padrões de diferentes tipos (das camuflagens às criações do designer têxtil William Morris e, mais recentemente, às formas geométricas).
Depois de redefinir luz, formas e cores, o artista recorre ao pincel e à tinta e transpõe o resultado para o meio físico, como um artífice dos velhos tempos, obcecado pela precisão.
Aos 52 anos, próximo de celebrar três décadas de carreira, Wilbert é a prova, afinal, de que a pintura segue mais viva do que nunca. Ainda bem.
ALIÁS
Pela primeira vez, 38 obras da lavra de Wilbert estão reunidas em uma mostra. Os quadros integram a exposição Imagem metamórfica, que embeleza o mezanino do Farol Santander, em Porto Alegre. Com curadoria de André Severo, a exibição segue até 27 de março.