No dia 3 de fevereiro de 1984 o corpo de Carlinhos foi encontrado na casinha de madeira que construíra, uma das primeiras da Praia do Rosa. Estava enforcado, sobre uma mesa, as pernas dobradas – posição idêntica à do “suicida” Wladimir Herzog no Deops de São Paulo.
Para começar, Carlinhos não era depressivo, muito pelo contrário. Era uma pessoa doce, de bem com a vida e planos para o futuro. A morte nunca foi devidamente esclarecida; até hoje segue a suspeita de que morreu sob tortura da polícia catarinense em busca de drogas, que aí teria forjado o suicídio.
Carlinhos Hartlieb começou cantando nos centros acadêmicos da UFRGS, onde estudava. Chegou aos jornais em 1969, quando sua música Por Favor, Sucesso venceu o II Festival Universitário da MPB – e o levaria ao Festival Internacional da Canção, no Rio. Depois passou um tempo em São Paulo atuando no Teatro Oficina. De volta a Porto Alegre, em 1972 fez o primeiro show solo e começou a revelar a vocação de líder. Entre os destaques de sua biografia estão as Rodas de Som, projeto fundamental da história da nova música gaúcha, que idealizou em 1974.
Pequeno, longos cabelos loiros, olhos atentos atrás dos óculos de aro fino, calmo e de fala macia, Carlinhos organizava o movimento por acreditar nele. Quando deixou a produção das Rodas para retomar o próprio trabalho, tinha um rumo certo: mesclar a formação de bossa e rock com o redescoberto folclore gaúcho, que mostraria em shows como Sonho Campeiro. Em 1978 eu o “convoquei” para ser um dos seis do LP Paralelo 30, cuja ideia era essa mesmo. Na sequência, ele lidera caravanas de músicos de várias tendências para shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.
De tudo isso, e embora quase já ninguém o ouça, o certo é que sua música segue atual e pode ser redescoberta. Basta ouvir o disco Risco no Céu (lançado postumamente em 1988) e outras canções que estão no YouTube. História: no final de 1983, com a fita máster desse primeiro disco em mãos, Carlinhos buscou sem sucesso uma gravadora em São Paulo e Rio de Janeiro. Abrindo o leque de selos e contatos, retomaria a busca depois das férias de janeiro no Rosa. Foi dos primeiros gaúchos conquistados pelo litoral de Santa Catarina, onde praticava mergulho. E onde encontrou seus assassinos.
Meu inesquecível amigo tinha 37 anos.