“Já não vivo ao acaso/ À deriva, sem destino/ Da vida tomei as rédeas/ E demarco meu caminho”. Trecho de uma das 13 canções que compõem o primeiro disco de Rita Mauch, nome que vem se destacando na música gaúcha. Nascida em Uruguaiana, ela é advogada e há 30 anos vive em Pelotas, onde estuda Canto na UFPel. “Minha carreira de cantautora se inicia na maturidade, mas foi sonhada desde sempre”, resume. O título do álbum, Este Senhor, é uma homenagem ao pai, de quem herdou a paixão pela música. Quase todas dela, as letras têm forte expressão feminina, revelando também sensibilidade especial pela Natureza.
Em 2020 Rita teve a valsa Voo Livre (faixa 2 do disco) classificada na Califórnia da Canção e vem participando de outros festivais, embora pelo menos aqui suas composições pendam mais para a MPB do que para o regionalismo – ou, neste caso, com a voz leve, romântica, sem contrastes, agrega elementos novos ao regionalismo. Seu parceiro, o violonista Leonardo Pinho, assina a produção musical e os arranjos, com piano, violino, cello, flauta (outro novo nome de destaque, Charlise Bandeira), sax, acordeom, baixo. Detalhe: como advogada, Rita atua na luta pela igualdade de gêneros e em ONGs assistenciais.
(Independente, CD R$ 30 no Instagram @ritamauchoficial)
Vini Brum: pop de qualidade
Há tempos Santa Maria tem uma expressiva cena pop/roqueira que, sabe-se lá por que, fica meio confinada na boca do monte.
Sei um pouco graças à gentileza de queridos amigos que me abastecem de informações. Exemplo: bandas como Rinoceronte e Poços & Nuvens são parte importante da história do rock gaúcho. Integrante de ambas, o compositor, cantor e violonista Vini Brum acaba de lançar o primeiro disco solo, Sereno, confirmando essa significação. Música madura, envolvente, boa de ouvir.
Concebido durante a pandemia com apoio do parceiro, produtor e editor Márcio Grings (uma das grandes cabeças de Santa Maria), o álbum tem basicamente Vini (voz, violão, viola, ukulele, bandolim, baixo) e, lá na Cidade do Porto, Portugal, Luís Bittencourt (piano, teclados, percussão, programações). Em pop, rock, folk, letras que são como crônicas existenciais, a voz de timbre marcante é cercada pela sonoridade hipnótica, ou minimalista, ou mais pesada. Desde a capa e o encarte, produção nota 10.
(LIC de Santa Maria, CD R$ 40 em Memoriabilia Store)
Música serrana pra dançar
Poucos sabem das rivalidades entre algumas regiões musicais do RS. Muitos missioneiros, por exemplo, não aceitam a influência da música serrana, que desde os Irmãos Bertussi (anos 1950) lidera o repertório dos bailes. Dois discos recentes afirmam o poder dessa música que, puxada pela gaita, introduziu nos bailes o baixo elétrico e a bateria. O primeiro marca a estreia da dupla caxiense Karol Coelho & Rafael Siqueira. O outro é o segundo de André Alano, gaúcho de Lages (SC). Todos gaiteiros.
Karol e Rafael formaram a dupla em 2017. Assinadas por eles, as 10 faixas instrumentais do álbum De Cima da Serra têm vanera, vanerão, chote, valsa e bugio. Uma delas homenageia o mestre Paulo Siqueira, também autor de uma das faixas de Vidas, Rimas e Versos, de André Alano, em ação desde 2007. Com os mesmos ritmos, o disco é mais variado, mescla músicas cantadas e instrumentais, dele e de autores como Honeyde, Edson Dutra e Borghettinho. Pra dançar! E não, não tem milonga...
(CDs R$ 24,90 em Querência Discos)
Os álbuns comentados também estão disponíveis nas plataformas digitais.