Fim de ano é quase sempre assim, inflação de shows em Porto Alegre. Mas não lembro de tantos como neste novembro: anotei cerca de 150 nos palcos da cidade. E nesta sexta começam os três dias do POA Jazz Festival. Tem público para tudo? Parece que sim, não ouvi reclamações. No meio disso, e ainda da abertura do Memorial da Ospa, e do Turá Festival, fui mobilizado para participar em Florianópolis do 6°Tum Festival (9 a 12), e em Pelotas da retomada do Acorde Brasileiro – Encontro Nacional de Músicas Regionais (16 e 17). Vou compartilhar algumas linhas sobre estes dois.
Criado e dirigido pela porto-alegrense Ivanna Tolotti, há anos radicada em Floripa, o Tum é um superfestival que mobiliza músicos e produtores do Brasil inteiro e países latino-americanos. Além de quatro grandes shows (Ana Cañas, João Bosco, Lenine e Àttooxxá), circularam pelos palcos mais de cem músicos e bandas em shows e showcases – do RS, Dessa Ferreira, 50 Tons de Pretas, Marcelo Fruet, Flor ET e Carlos Badia/BRazz’nRAP. Paralelamente rolavam mesas-redondas e workshops sobre diversos temas em salas do Centro Integrado de Cultura, o CIC, sede principal do evento. Agitos por todo lado, música pelos corredores. Enfim, um acontecimento. Ivanna planeja fazer o Tum também em Porto Alegre em 2025.
Já em Pelotas, a volta do Acorde estava planejada, com financiamento do Procultura da cidade, quando seu idealizador, Luiz Carlos Contursi, morreu pela covid em 2021. Haroldo de Campos e Martim César organizaram a retomada trazendo Nilson Chaves (Pará), Alberan Moraes (Acre), Chico Lobo (Minas), Juju Ferreirah (Rio) e Ruy Godinho (Brasília), e shows locais de Maria da Conceição, Trio Sovaco de Cobra, Leandro Maia e Maurício Barcellos. Vitor Ramil participou do show de Chico Lobo. Nos dois dias, rodas de conversa sobre a música brasileira. Tudo no Centro de Artes da UFPel. Não se pode comparar a retomada do Acorde com a dimensão do Tum, mas pelo menos o Acorde respira de novo.
Todo o violão de Maithan
Ele diz se identificar com a obra de Vitor Ramil e sua estética do frio, “o detalhismo, a introspecção, a reflexão sobre fazer música a partir do pampa, sobre aceitar o diálogo entre a cultura brasileira e as platinas”. Ele se chama Maithan Timm Knabach, ou simplesmente Maithan, violonista e compositor que está lançando o primeiro disco. Também é vizinho geográfico do pelotense, pois nasceu em Canguçu. Mas seu leque de influências é amplo, avalia, de Erico Verissimo a Dominguinhos, passando por Guinga, Piazzolla, Brahms, Adélia Prado, Borghetti, Gismonti, Cartola, Carlos Aguirre, Gnattali, Quartchêto, Tom Jobim, Villa-Lobos, Fauré, Quintana, Lúcio Yanel, “e outras”. Essas citações dão uma medida da formação do artista, graduado em Violão pela UFPel em 2012. Ouvindo o álbum, no entanto, o que temos é a música instrumental de Maithan.
Nas 11 faixas, com títulos econômicos e plásticos (Araucárias, Cafezal, Lonjuras, Revoada, Aguaceiros), temos zamba, milonga, choro, baião, samba, música de concerto, em estruturas quase sempre complexas. O violão de sete cordas abre os caminhos para as entradas, aqui e/ou ali, de flauta (Ianes Coelho), acordeom (Davi Raubach), percussão (Mariano Cantero), bandolim (Elias Barboza), trombone (Julio Rizzo) e baixo acústico (Edu Martins, coautor dos arranjos). Se o Rio Grande tem gerado grandes violonistas, este é um deles, pronto para brilhar nos palcos do mundo, seja na música popular, seja na erudita, seja no casamento das duas. Maithan vive desde 2017 em Porto Alegre – onde fará show de lançamento no Teatro do Sesc em 7 de dezembro, às 19h30min, ingresso grátis no Sympla. Antes se apresentará em Pelotas, Canguçu e Camaquã.
(Patrocínio Pro-Cultura RS, CD R$ 30 nos shows e em @maithanautoral. Nas plataformas digitais)