Ele consegue inovar nestes tempos de multiplicidades. Como se fosse um único “produto”, está lançando um novo álbum, singles, dois EPs e um álbum ao vivo, vindo junto ainda cinco projetos em parceria e participações em trabalhos de outros. Tudo realizado durante a pandemia. Parece difícil de entender? Quando você tiver em mãos o libreto Luciano Albo 2020 2021 2022, vai ficar fácil. Nas 16 páginas (com belo design de Rafael Cony) estão textos informativos, as fichas técnicas e códigos QR para se ouvir mais de 40 músicas no Spotify, no YouTube, e para fazer download.
O novo álbum é Te Vejo Depois, gravado em 2022. Nele, como na maioria dos outros, Albo toca todos os instrumentos, com participações especiais aqui e ali. “Vejo este como o fim de uma trilogia dentro do universo power-pop ao qual me dediquei nos antecessores Dossiê Camaleão (2002) e A Ordem Natural das Coisas (2012)”, resume. É uma explosão musical, com ideias múltiplas e letras boas. No rock’n’roll Eu Não Vou Desistir, com legítimo DNA de rock gaúcho, sua voz convincente avisa: “Não vou desistir sem antes fazer tudo o que eu quero”.
Um dos singles é o precioso resgate da porrada Mogadon, de Flávio Chaminé (1950-2004). Tem também o EP instrumental Ciao Lola Bun e a íntegra do álbum Ao Vivo em POA, gravado em 2013. Enfim, não há espaço para discorrer como eu gostaria sobre o projeto. Mas o conjunto é impressionante, criativo, múltiplo, bem gravado, fluente ao ouvido, uma viagem mesmo. Desde os Cascavelletes, nos anos 1980, Albo tocou e gravou com muita gente, produziu outros tantos, é um eixo no pop gaúcho/brasileiro. Falta mais gente reconhecer isso. Quem sabe agora?
Este março é para guardar
Março de 2023 entra para a história da música de Porto Alegre por quatro verdadeiros acontecimentos em diferentes estilos/gêneros. Estive nos quatro e posso dizer isso. O Festival Paulo Moreira, reunindo os principais nomes do jazz e da música instrumental. O Tributo a Miranda, encontro de músicos e bandas de rock que marcaram os anos 1980. O revival dos Almôndegas, 50 anos depois. E a festa dos 70 anos de idade e 60 de carreira de Luiz Carlos Borges. Em comum: muito público, alegria, emoção explicita nos palcos e nas plateias pelos reencontros, passados três anos da pandemia e quatro de tensão política. Foram momentos de ufa! E de abraços. Ditadura nunca mais!
Maldonado abençoado
Quando, meses atrás, João Maldonado solicitou autorização a Wayne Shorter para gravar sua música Witch Hunt, o grande jazzista (falecido agora em 3 de março) pediu que lhe mandasse a gravação. Feito isso, aprovação imediata. Não é preciso melhor “carimbo” para a qualidade do pianista e compositor porto-alegrense, que está lançando 8, terceiro álbum em 40 anos de carreira, gravado ao vivo com afiadíssimo grupo – Gian Becker (trompete), Amauri Iablovoski, Cristiano Ludwig, Diego Ferreira (saxes), Nana Sakomoto (trombone), Miguel Tejera (baixo) e Dani Vargas (bateria). Composições próprias e clássicos do jazz mesclam-se com brilhante resultado. Do bebop ao cool jazz , passando pelo minimalismo e pelo pop, Maldonado manda ver. Além de grande pianista, é compositor e arranjador de altos recursos. (Independente)
Transgressão e utopia
Dois gaúchos-catarinenses unem inspirações no recém-lançado álbum Há um Blues no Fim do Túnel. São o compositor, violonista e cantor Marcoliva, nascido em Carazinho, e o jornalista e escritor Claudio Schuster, natural de Pelotas, ambos radicados em Florianópolis – respectivamente desde 1996 e 1986. Bem conhecidos em suas áreas, com vários discos e livros, este é o primeiro trabalho que fazem juntos. “Queríamos falar de transgressão, paixão, utopias e esperança, depois de um período de tristeza pela pandemia e pelos rumos do país”, diz Schuster. E acertam a mão. Além de blues, o álbum tem pop, MPB e jazz com a voz bem particular de Marcoliva. Uma banda eficiente e participações como a ótima cantora Angie Gastamb nas faixas Foda e Tango Milonga Blues sublinham a produção. (Independente)