Quando você fica sabendo que no disco de um guitarrista brasileiro estão Eric Clapton, Kurt Rosenwinkel, Joshua Redman e Aaron Parks, já arregala os ouvidos. Tudo isso? Pois é verdade. Todos eles participam de Song for Tomorrow, quinto álbum solo do brasiliense Daniel Santiago, hoje já quase mais conhecido lá fora do que aqui — até chegar a pandemia, vinha levando a vários festivais internacionais sua mescla de música brasileira e pop-rock dos anos 1960/70.
Nascido em uma família muito musical, começou aos 19 anos, em 1998, formando o Brasília Trio, de violões e bandolim, com Rogério Caetano e Hamilton de Holanda. Depois, tocou e/ou gravou com Milton Nascimento, João Bosco, Ivan Lins, Seu Jorge, além de integrar um grupo de sucesso cult, O Teatro Mágico.
“Este disco vem da minha infância, é uma volta aos anos 1980, o Clube da Esquina, a MPB, o rock brasileiro, o rock de Brasília, o synth pop europeu que minha mãe ouvia no carro, mas sobretudo resgata minha relação com a música antes de me tornar músico”, resume Daniel.
Quando ele tinha 11 anos, o pai o levou para assistir a um show de Clapton, que passou a ser um de seus ídolos. Em 2019, por uma dessas tramas da sorte, ele e seu mais constante parceiro, o também guitarrista/violonista Pedro Martins, foram convidados para se apresentar no Crossroads Guitar Festival, promovido por Clapton na cidade de Dallas. Lá, aproximou-se de outro ídolo, Rosenwinkel, soberbo guitarrista do jazz, que o levaria a Clapton e ao início da história de Song for Tomorrow.
Mais: Rosenwinkel topou ser o produtor do álbum! As gravações começaram em fevereiro de 2020 em Berlim. Com a pandemia, foram concluídas nos estúdios caseiros de cada um, em cidades dos EUA e do Brasil. Além das ótimas guitarras e violões, Daniel faz sintetizadores. Cito só a primeira faixa, Open World, com letra em inglês e solo de Clapton. As outras têm letra em português ou são instrumentais.
O pop-rock certeiro faz amálgama perfeito com sonoridades que remetem à turma mineira, Beto Guedes, 14 Bis — a voz de Daniel se encaixa bem aí. Na maioria, sempre a presença de Rosenwinkel e pontuais solos do sax de Joshua Redman e do piano de Aaron Parks. Os convidados são marcantes, claro, mas eu diria — como devem ser os convidados.
“Cantamos a esperança de um mundo mais justo e solidário”, sublinha Daniel.
Songs for Tomorrow, de Daniel Santiago
- Lançamento do selo Heartcore Records, onde se pode comprar o disco em vinil. Disponível nas plataformas digitais.
MPB dos EUA para o mundo
Admirado tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, onde vive (Nova York) desde 1988, o baterista, compositor e arranjador Vanderlei Pereira lança o primeiro álbum solo, Vision For The Rhythm. É um trabalho instrumental de altas esferas elaborado por seu sexteto, o Blindfold Test. Nos nomes do disco e do grupo, a referência à visão e à falta dela está ligada à deficiência do músico, que começou a ficar cego nos anos 1970 devido a uma doença congênita. Com formação acadêmica, chegou a tocar na Orquestra Sinfônica Brasileira, até não mais poder ler partituras — mergulhando, então, na música popular, tocando com Johnny Alf, Sivuca, Rildo Hora e mais.
Nos EUA, passou a atuar com brasileiros, Airto Moreira, Flora Purim, Dom Salvador, Bebel Gilberto, e também americanos da cena nova-iorquina. Embora os princípios do jazz estejam naturalmente no trabalho, o que Vanderlei faz é pura música brasileira para o mundo. Já na faixa de abertura, Misturada (de Airto), está um samba que convida à dança. Jorge Continentino (flautas, sax), Deanna Witkowski (piano), Paul Meyers (violão), Gustavo Amarante (baixo) e Susan Pereira (esplêndidos vocalizes) formam um time afiadíssimo. Vanderlei assina quatro composições. Entre os outros autores, Edu Lobo, Antonio Adolfo, Toninho Ferragutti e Jasnam Daya Singh.
“Blinfold test” é a brincadeira de fazer audição às cegas de uma música para descobrir quem está tocando. É também o título de uma seção da revista Down Beat.
Vision for Rhythm, de Vanderlei Pereira and Blindfold Test
- Lançamento do selo Jazzheads, disponível nas plataformas digitais. Álbum físico (CD) na amazon.com
BEMÓIS & SUSTENIDOS
Ricardo Duarte
Promete polêmica o livro Marupiaras, que o uruguaianense Ricardo Duarte lançou em e-book na Amazon. A partir das origens da Califórnia da Canção, Ricardo, que foi seu presidente, avança em outros assuntos: “É a visão de quem estava dentro, mas procuro ser isento de paixões maiores”.
Roberto Carlos
Na segunda-feira (19), Roberto Carlos completará 80 anos! Aproveitando a data, está sendo lançado o livro Querem Acabar Comigo - A Trajetória de Roberto Carlos pelo Olhar da Crítica Musical, do jornalista Tito Guedes. Editora Máquina de Livros, edição física R$ 42, e-book R$ 28,90.
Sérgio Mendes
Estreia dia 24, na HBO, o doc Sérgio Mendes no Tom da Alegria. O diretor John Scheinfeld resume vida e obra do músico que, em meados dos anos 1960, saiu dos bares cariocas da bossa nova para se tornar um astro pop nos EUA. Também estrelam o filme, entre outros, Pelé!
Célio Albuquerque
Autor de 1973 – O Ano que Reinventou a MPB, o jornalista carioca Célio Albuquerque organiza um livro sobre 1979, que “foi marcado pela explosão das compositoras, o boom da música independente e os reflexos da anistia”. Serão comentados 90 discos, cada um por um autor.