Integrante da linha de frente da guitarra brasileira, o gaúcho Paulinho Barcellos demorou para fazer seu primeiro disco solo, My World. Em compensação, veio com um petardo de nível internacional. Pra começar, entre os convidados estão os guitarristas Jamie Glaser (tocou com Chick Corea e com Jean-Luc Ponty), Grecco Buratto (Enrique Iglesias, Shakira) e Pedro Tagliani (Raiz de Pedra, Delicatessen).
“Uma das ideias do trabalho é mostrar as diferentes formas de expressão a partir do instrumento”, diz Paulinho. Certo, pois ouvimos vários estilos de guitarra, da mais distorcida e roqueira à mais limpa e jazzística. A marca básica do álbum é o jazz-rock, envolvido por linhas melódicas inspiradas. Todas dele, as músicas mostram também um compositor maduro.
Paulinho entrou no cenário do rock gaúcho em 1984, com a banda Frutos da Crise. Em 1988, foi aprender mais em Londres. De volta a Porto Alegre em 1990, lançou um surpreendente LP com a fugaz banda Cine Privê. A partir daí, enquanto participava de shows e discos de outros, montou um estúdio de gravação e produção e passou a dar aulas de guitarra.
A pandemia o estimulou a concluir My World, que vinha sendo feito há algum tempo. Mesmo com as esplêndidas guitarras, não é um disco só para os amantes do instrumento; quem gosta de som instrumental também ficará bem satisfeito. E ao lado de Paulinho estão feras como Ciro Moreau, Zé Natálio, Luiz Mauro Filho, César Audi, Bebeto Bohr, Marcelo Figueiredo, Leandro Boeira, Fernando Spillari. E a produção é de luxo.
MY WORLD, de Paulinho Barcellos
- Independente, CD R$ 30 à venda em Porto Alegre na Toca do Disco. Pode ser comprado em www.paulinhobarcellos.com.
Bemóis & Sustenidos
Inauguro uma seção de notas que estará aqui volta e meia. Os álbuns e livro citados serão comentados oportunamente.
Dom La Nena
A versão digital de Tempo, terceiro álbum de Dom La Nena, já pode ser ouvida. Nascida em Porto Alegre e radicada em Paris, a cantora, compositora e violoncelista é uma estrela internacional. Tempo tem canções em português, francês e espanhol — uma delas se chama Milonga. Um clima onírico e nostálgico perpassa o álbum. Six Degree Records.
Vitor Ramil
Brevemente Vitor Ramil e seu violão subirão ao palco do Theatro Sete de Abril, em Pelotas (em fase final de restauração), para gravar Avenida Angélica, o novo trabalho, que sairá em CD/DVD e nas plataformas, ainda sem data de lançamento. São 17 poemas musicados da poeta pelotense Angélica Freitas. Financiamento da Natura Musical.
Lô Borges e Márcio Borges
Chega nesta sexta-feira (5) às plataformas digitais o álbum Muito Além do Fim, de Lô Borges e Márcio Borges. O “detalhe” é que o trabalho marca a volta do trabalho conjunto dos manos mineiros do Clube da Esquina depois de 10 anos. “Ele é um cara fundamental para mim”, diz Lô. “Foi com ele que aprendi a compor, quando tinha 14 anos”. Gravadora Deck Disc.
Nuno Mindelis
Lançada há um mês em e-book, a autobiografia de Nuno Mindelis, Por que Não Sou um Bluesman: Seis Mil Anos, está prestes a sair em formato físico. Nome importante do blues brasileiro, o guitarrista de Angola faz uma biografia romanceada em que se divide em quatro personas para contar sua vida desde que saiu de seu país, aos 17 anos. Hoje tem 63.
Antena
Cosmo-Lidium, de Gilberto Franco
Este é o sétimo álbum de um fenômeno que deveria ser mais conhecido. Santa-mariense radicado em Dom Pedrito, onde trabalha como dentista, Gilberto Franco tem relações com músicos de muitos países. Multi-instrumentista dedicado à chamada new-age, ou world music progressiva, ao deixar o consultório ele embarca em uma viagem que só quem o ouve pode acompanhar. Suas composições de espírito cósmico têm forte personalidade.
Nas 11 faixas de Cosmoludium, ele reúne da corneta do inglês Mark Charig (integrante das primeiras formações do King Crimson) ao violino da ucraniana Irina Markevich, o piano do indonésio Krisna Setiawan, o trompete do romeno Mihai Sorohan, o alaúde do marroquino Amine Jmili, a quena do peruano Carlos Carty, e por aí vai, até a guitarra do gaúcho Gambona, entre músicos da própria Dom Pedrito, como o baixista Alexson Massagão.
Com músicas que às vezes parecem colagens, o que Gilberto Franco consegue é praticamente um milagre. Independente, CD R$ 30, pedidos a gilbertofranconline@gmail.com.
Nossa Alma, do Sovaco de Cobra Trio
Único dos discos desta coluna gravado antes da pandemia, em 2019, este é o segundo do trio pelotense de choro que há pouco comemorou 15 anos de existência. O primeiro, de 2015, foi dedicado à obra de Avendano Jr. (1939-2012), notável cavaquinista que todos têm como o fundador da forte cena do choro em Pelotas.
Com Gil Soares (flauta), Silvério Barcellos (violão de 7 cordas) e Jucá De Leon (pandeiro, percussão), o Sovaco de Cobra faz valer a máxima de que para tocar choro tem que ser muito bom. Os três são ótimos. E mostram que o choro pelotense tem personalidade própria. No roteiro do álbum convivem músicas de Gil e Silvério, composições de amigos deles como Paulinho Martins, Egberto Parada e Eduardo Varela, e de dois chorões ilustres que já se foram, Toinha e o próprio Avendano.
“Nossa alma quer olhar pra frente e reverberar a quantidade e qualidade da produção local de música brasileira, solar, luminosa, negra e festiva”, diz o trio no encarte. Procultura de Pelotas, CD R$ 35 na página da produtora NotaAzul no Facebook.