Mais do que um simples documentário, Fevereiros, do cineasta fluminense Marcio Debellian, é uma funda e tocante declaração de amor e admiração por Maria Bethânia. Quem viu o filme na temporada de estreia nos cinemas, em 2019, sabe disso. Mas a maioria das pessoas que também admira a artista, principalmente de fora das capitais, só agora terá o prazer de assisti-lo, com o lançamento em DVD. Garanto: é imperdível. São duas histórias que se unem em Bethânia.
A partir do enredo em homenagem a ela, A Menina dos Olhos de Oyá, que deu à escola de samba Mangueira a vitória nos desfiles do Sambódromo em 2016, Debellian mergulha no sincretismo das festas religiosas de Santo Amaro, a já mitológica cidade baiana que irradia para o Brasil o magnetismo da família Velloso. Imagens e músicas arrebatadoras o tempo todo.
O filme vai mostrando em minúcias as preparações para o desfile da Mangueira e para a festa de Nossa Senhora da Purificação. Em meio a isso, conversas com Caetano e a outra irmã, Mabel, trazem histórias da família; o historiador Luiz Antonio Simas e o carnavalesco Leandro Vieira comentam processos históricos que envolvem escravatura, candomblé, catolicismo, negritude. Entre outras entrevistas. E o passado entrando no presente em imagens de filmes antigos a mostrar ícones como João da Baiana, Carlos Cachaça, Cartola, Mãe Menininha (com Jorge Amado) e mais, sem falar nos próprios manos na juventude – há um encantador vídeo da garota Bethânia aí pelos 20 anos, falando para Chico Buarque sobre os orixás da Bahia. Fevereiros me emocionou. Um filme sensível, alegre, cheio de cores e sons, místico, brasileiro no melhor sentido.
- FEVEREIROS, de Maria Bethânia, DVD do filme de Marcio Debellian, duração 75min, gravadora Biscoito Fino, R$ 57.
Bagualismo e refinamento
Conheci o santanense Ricardo Martins nos festivais nativistas, onde se destacou com seu violão vigoroso e marcante — criou um jeito próprio de tocar o violão gaúcho (além de outros instrumentos, como a gaita). Também homem de campo, ginete, congrega em sua música bagualismo e refinamento, como demonstra neste quinto disco, Transcendência.
São 12 canções com vários parceiros nas letras e uma assinada por Érlon Péricles (com ares biográficos), que passam por ritmos com milonga, valsa, chamamê, vanera. A voz rústica sublinhada pela energia do violão dá densidade aos convincentes versos. Bem produzido, o álbum tem participações especiais do porte de Renato Borghetti, Shana Müller, Clarissa Ferreira, Luciano Maia, Charlise Bandeira e Cristian Sperandir. Como se diz, um trabalho de fundamento.
- TRANSCENDÊNCIA, de Ricardo Martins. Independente, CD R$ 35 no Facebook de Ricardo ou pelo telefone (55) 99962-1655.