Há rock, e há rock'n'roll.Primeira banda gaúcha a estourar no Brasil, a Garotos da Rua fazia rock'n'roll. Trinta anos e algumas desavenças depois, seu cofundador e baterista Edinho Galhardi reaparece com a Volt, que tem o mesmo letrista, Carlos Caramez, e o mesmo DNA musical.
Na verdade, a Volt é praticamente uma extensão da Garotos da Rua, e seu recém-lançado primeiro álbum, uma homenagem explícita a Bebeco Garcia (1953 – 2010), guitarrista, vocalista e líder daquela banda. Galhardi diz que em 2013 começou a gravar algumas músicas novas sem maiores pretensões, "mas as coisas foram ficando boas,e me vieram algumas ideias interessantes, daí resolvi fazer o disco". O primeiro a ser chamado para entrar na história foi Caramez, hoje produtor cultural do Auditório Araújo Vianna.
– Gostei do resultado, o Edinho também guardou umas coisas inéditas, teve sensibilidade, era o cara mais próximo do Bebeco e soube fazer tudo direito – aprova Caramez.
A Volt se completa com os teclados de Clayton Chiesa, o baixo de Paulo Fransmann, a guitarra e o vocal de Alex Lappann, que é especialmente competente e parceiro de Galhardi e Caramez nas novas músicas, entre elas Ficar Com Você, Surpresas Ilícitas (“Não perca seu tempo comigo/ Quando eu chego já é hora de partir”, diz a letra) e o blues Deixe as Coisas Como Estão (com o convidado Solon Fishbone na guitarra).
Outra nova, Canos Fumegantes, tem parceria de Luís Mauro Vianna. Do baú do baterista vieram três inéditas da Garotos da Rua –Droga de Rock (1984), que abre o CD, Muito Prazer (1983) e Amor Não Faz Mal (também de 84). De outros autores brilham a balada Eu Gosto um Tanto (Nei Duclós/Mutz Weyrauch), com Marietti Fialho fazendo um coro gospel), e, fechando o disco, o country Enfeitiçado de Amor (Júlio Reny), que Bebeco deixou gravado em 2008 e agora recebeu arranjo para banda e metais, com a voz do autor em um dueto que eu chamaria de emocionante.
Para sublinhar a bem trama da produção, a capa é de Marco Pilar, artista plástico e roqueiro incorruptível que, entre muitas coisas, tem no currículo a clássica capa do LP do Bixo da Seda (1976).
CD Volt, da banda Volt: Independente/MCK, R$ 30, à venda na Toca do Disco (Porto Alegre). Contato: edinhogalhardi@hotmail.com.
Gaúchos rebeldes
Exatos 35 anos atrás, Bebeto Alves e Vitor Ramil lançavam seus primeiros álbuns, ambos por grandes gravadoras – e que, por coincidência, nunca saíram em CD, o que é uma pena, pois são clássicos da época. Semanas depois dos lançamentos, fui ouvir as impressões deles para a coluna em ZH. Bebeto reclamava que a CBS não trabalhava o disco; sequer a música Kraft!...Mesmo, vista como uma das mais instigantes do festival MPB 81, da Globo, merecia a atenção dos divulgadores. Olha o desabafo:
"Meu disco soa como uma coisa excêntrica para cariocas e paulistas. Sentem dificuldade em situá-lo, não têm pontos de referência para compará-lo com o que eles conhecem. Estou há três anos vivendo no Rio e cada dia mais me convenço de que é realmente necessário que o país se intercomunique. A manipulação de gostos e a centralização cultural precisam terminar. Chega de cultura brasileira feita na Zona Sul carioca."
Com outras palavras, Vitor reclamava do mesmo em relação à PolyGram:
"Sou exigente, e os caras da gravadora me criticam por isso. Sem querer comparar, quando João Gilberto é perfeccionista, dizem que é um gênio. Para mim, dizem que sou metidinho. Acho que preciso ser exigente porque o que está em jogo é o meu trabalho. Dizem que estou apenas começando, que não deveria ser tão incisivo em minhas exigências. Quer ver? Os caras investem um alto dinheiro em Caetano Veloso e quase nada em mim. Ora, deveriam investir é em mim, não no Caetano, que não precisa. Deveriam investir nos novos, para obter retorno. Se não, os novos nunca vão acontecer."