Com um sucesso na voz de Elis Regina (Madalena), o segundo lugar no Festival Internacional da Canção (O Amor É o Meu País) e quatro LPs lançados, em 1975 ele era um nome em ascensão entre os novos talentos da MPB.
Mas nunca tinha feito uma turnê nacional.
Naquele ano fez a primeira, um circuito universitário que encerra a fase do artista iniciante – pois na turnê seguinte, de lançamento do álbum Somos Todos Iguais Nesta Noite, em 1977, ele ingressa no primeiro time, tornando-se, mais tarde, um nome internacional.
A recém-lançada caixa tripla Ivan Lins Anos 70 flagra exatamente esse momento do compositor carioca, com gravações inéditas.
Uma joia para fãs e colecionadores.
Dois CDs são shows da turnê gravados em Curitiba e em São José do Rio Preto, mesclando o roteiro dos discos de 1974 e 75 e interpretações de sambas como Opinião e Acender as Velas, de Zé Keti, símbolos do protesto contra a ditadura.
Novidade: ao lado das letras de Ronaldo Monteiro de Souza ( parceiro desde o início), surgem as letras vigorosas e políticas de Vitor Martins, começando com Abre Alas.
Os dois CDs mostram que a parceria com Ronaldo merece ser reavaliada e que a chegada de Vitor foi determinante para que a formação de jazz- soul- bossa nova de Ivan, sem perder o requinte harmônico, ganhasse audições mais horizontais.
Numa das falas dos shows, ele comenta que no início não se via cantor ( formara- se em engenharia), que fora "empurrado para o estúdio".
Mas tocava piano, e seu lado instrumental é evidente nos CDs 1 e 2, compartilhados com o grupo Modo Livre, de Gilson Peranzzetta (teclados), Ricardo Pontes (flauta, sax), Fred Barbosa (baixo) e João Cortez bateria).
A qualidade técnica das gravações ao vivo não é muito boa, mas os resultados compensam.
Já o CD 3 da caixa foi feito em estúdio, em 1978, e tem gravações nunca aproveitadas em discos.
Ivan de piano e voz e, em quatro canções, ao lado de sua bela Lucinha.
Aqui estão canções inéditas e algumas gravadas por outros, além de interpretações de Cartola e Tom Jobim.
Enfim: um Ivan Lins que nunca tinha sido ouvido antes – a não ser pelo público daqueles shows.
IVAN LINS ANOS 70
De Ivan Lins
Caixa com três CDs, gravadora Discobertas, R$ 75.
CALENDÁRIO DO AFETO - De Carlos Walter (Distribuição Tratore, R$ 30, à venda nos canais de streaming)
Ulisses Rocha, Juarez Moreira e Yamandu Costa fazem empolgadas apresentações deste disco de estreia do mineiro Carlos Walter, que já se insere entre as grandes revelações do violão brasileiro.
Calendário do Afeto é uma suíte para violão solo com nove movimentos referentes aos meses de gestação de seu primogênito Pedro – que hoje tem três anos.
Ritmos como valsa, baião, marcha- tango, bossa nova e choro envolvem composições de profundo lirismo, alegria e emoção, pois a espera do filho também o faz pensar em sua vida, e na de seus pais, na história da família.
"O Calendário é uma ode ao amor paterno", diz a também violonista Elodie Bouny, mãe dos filhos de Yamandu e produtora musical do álbum.
No encarte, Walter comenta poeticamente cada movimento – como no nono: "O choro é a trilhasonora do nascer feliz".
O CD inclui um livro em PDF, com partituras, cifras e tablaturas.
ISSO – De Projeto B ECO
Entrando no 16 º ano de sua existência, o quinteto paulista lança o quarto álbum e se mantém uma das formações instrumentais mais instigantes do país.
Yvo Ursini (guitarra), Leonardo Muniz Corrêa (saxofones), Amilcar Rodrigues (trompete, flugelhorn), Henrique Alves (baixo elétrico) e Maurício Caetano (bateria) são músicos experientes, com carreiras paralelas, mas é com o Projeto B que de fato lavam a alma.
A combinação de jazz de vanguarda, música brasileira e música erudita contemporânea tem ruído, atonalismo, eletricidade e também momentos " normais", mas exige um certo treino do ouvido, uma disposição de seguir em frente para degustar o que acaba se revelando gratificante.
É grande música em qualquer lugar do mundo.
Ao lado de temas próprios, o grupo reprocessa composições de Debussy, Mosolov e Ligeti.
Arnaldo Antunes faz participação especial com um poema.
EM HORIZONTE – De Fabricio Gambogi
Conhecido como guitarrista da banda Dingo Bells e produtor/ arranjador/ músico de discos de artistas como Gisele De Santi, Fabricio Gambogi tem uma lado que poucos conhecem: o de compositor erudito.
E é mostrando esse lado, de efeito impactante, que ele lança o primeiro álbum.
Eco em Horizonte integrou o trabalho de mestrado em composição na UFRGS, em 2011.
Trata- se de um ciclo de sete músicas para grupo de câmara, formado na gravação por Júlio César Wagner (oboé), Elimar Blazina (clarinete), Íris Andrade (violino), Gabriel Polycarpo (viola), Aninha Freire (contrabaixo), Paulo Bergmann (piano) e Diego Silveira ( vibrafone, percussão).
A composição é influenciada pela técnica poliestilística, do russo Schnittke, e também pelo húngaro Ligeti.
Lançamento com apresentação de duas peças ao vivo dia 9 de abril na Livraria Cultura.
Cem anos de tango em Porto Alegre
Em 1914, o maestro argentino Francisco Canaro veio a Porto Alegre para gravar seu tango El Chamuyo na hoje célebre Casa A Electrica.
A história é longa, está em livros e em um filme, interessa aqui por ser o ponto de partida do livro O Tango em Porto Alegre (1914 - 2014), do músico e pesquisador Washington Gularte.
Uruguaio radicado na capital gaúcha há 35 anos, com discos e livros ( um deles sobre o candombe) lançados, Gularte fez o que parecia óbvio, mas que só ele realizou: a pesquisa sobre os cem anos do gênero argentino na cidade brasileira que mais o cultuou.
O livro não conta uma história romanceada, é mais um levantamento sobre as casas noturnas e os músicos que fizeram e fazem essa história.
A primeira casa citada é o Café Colombo, que nas décadas de 1920 e 30 apresentava orquestras típicas.
Nos anos 1940 a 60, enquanto as rádios Gaúcha e Farroupilha mantinham essas orquestras típicas, o tango predominava em cabarés como o Maipú.
O início do que Gularte considera o "segundo período" é a abertura da casa noturna La Cumparsita, em 1974, dando origem a similares como Mano a Mano, Caminito e El Tango.
Ele entrevistou cerca de 30 expoentes do tango porto- alegrense (a maioria argentinos e uruguaios) e é por meio de suas rápidas biografias que descreve a movimentação.
A primeira entrevista foi com Nina Moreno, criadora do La Cumparsita, falecida em maio de 2015.
Entre as outras, Ruben Val, Pepito Diaz, Raúl Iturria, Hugo Peñaloza, Carlitos Magallanes, Valentin Cruz e o radialista Roque Araújo Vianna – que há 37 anos apresenta o programa Tangos en La Noche (Rádio da Universidade/ UFRGS).
O terceiro período, nos anos 2000, é o da proliferação das academias de dança.
O Tango em Porto Alegre torna- se obra de referência.
O TANGO EM PORTO ALEGRE (1914 - 2014) De Washington Gularte Edições Caravela, 176 páginas, R$ 35, contato pelo fone (51) 9106- 0864.