Que a sustentação prolongada do distanciamento social esticou a corda da tolerância da população geral, varreu a racionalidade e virou o fio da prudência, não se pode negar sem o rótulo de alienado.
O desconforto generalizado produzido pela solidão compulsória extrapolou o comportamento judicioso que permitia, em condições normais, projetar o futuro, mesmo em detrimento da alegria no presente.
Sempre me pareceu irracional reter em casa quem dependia da rua para sobreviver, mas não são esses necessitados que lotam os bares e, sem nenhum tipo de proteção, desfilam um destemor patético, que ameaça menos a eles, por serem jovens, e mais aos seus pretensos amados. Esses velhinhos simpáticos e carentes, que aprenderam a temer a rua, mas nem imaginam o risco de quem vem de lá.
Com as várias vacinas em diferentes estágios de acreditação, e considerando-se que serão necessárias duas doses em dois meses, provavelmente consumiremos o primeiro quadrimestre de 2021 até a chegada do nosso sonhado novo normal.
A chamada segunda onda, subestimada por quem acha mais fácil negar, já chegou. Com força. A expectativa de que fosse menos intensa, por encontrar uma população maior de imunizados pela doença, não se confirmou. A detecção de casos de coronavírus com mutações, reconhecidos em pacientes de Nova York, sugere fortemente que este vírus, ardiloso na propagação, também tem lá os seus mecanismos de adaptação em busca de sua própria sobrevivência.
Vários pneumologistas, munidos de dados que associam a liberação desprotegida dos cidadãos e o aumento exponencial de novos casos, preveem curvas perigosamente ascendentes de incidência da doença, em todas as regiões do país. Com ênfase nos grandes centros em que as aglomerações são naturalmente mais densas, eles anteveem janeiro e fevereiro de 2021 como os períodos mais críticos desde o início da pandemia. E esse risco será tão maior quanto menos entendamos que é razoável sacrificar este Natal, para que estejamos vivos para curtir os muitos que ainda virão.
Apesar de todos os especialistas advertirem que na produção de vacinas, por ser um processo complexo, nunca se cogita acelerar a técnica em detrimento da segurança, o que mais se ouve é a reclamação pela demora de liberação dos protocolos internacionais indispensáveis à disponibilização de novos medicamentos, terapêuticos ou preventivos, como são as vacinas.
Com as várias vacinas em diferentes estágios de acreditação, e considerando-se que, segundo se anunciou, serão necessárias duas doses em dois meses, provavelmente consumiremos o primeiro quadrimestre do ano novo até a chegada do nosso sonhado novo normal.
Por sermos um país continental, a distribuição das vacinas, quando disponíveis, terá as inevitáveis dificuldades logísticas para atender todos os 166 milhões de brasileiros temerosos de adoecer, já excluídos os 22% que anunciaram em pesquisa recente que não desejam ser imunizados, exercendo um direito constitucional.
Então que sejam vacinados todos os pacientes da população de risco, incluindo-se aí os profissionais da saúde, para que eles possam continuar prestando o melhor atendimento possível aos que, em nome do livre arbítrio, se sentem estimulados a desafiar a morte.