Não importa se inteligente ou debiloide, inspiradora ou deprimente, avançada ou sectária, corajosa ou frouxa, opinião todo mundo tem. O problema começa quando há que decidir o que fazer com ela.
Um grupo, infelizmente restrito, tem opiniões firmes e nenhuma dificuldades para anunciá-las porque não temem divergência, até porque foram gerados pelo contraditório, o que justifica que estejam vigilantes com o que se diz.
No outro extremo, uma legião de opiniáticos potenciais, sob o argumento de que preferem cuidar das suas próprias vidas, nunca emite qualquer opinião que possa encontrar adversários, pré-concebidos por eles, como ameaçadores e cruéis. Esses, em geral, preferem jamais se manifestar e ficam na expectativa pusilânime, aguardando o que vai acontecer, mesmo com toda evidência de que não acontecerá nada. A modernidade ofereceu ao grupo dos frouxos a possibilidade de se manifestar sem serem identificados: atrás do biombo da internet, esbravejam com uma coragem que eles, mais do que ninguém, sabem que não têm!
Entre os que têm opinião e são capazes de expressá-la sem temor, estão os líderes verdadeiros. Como seres humanos, eles se empolgam, enfiam os pés quando bastava girar a maçaneta e falam bobagens, e erram e acertam e erram de novo e corrigem, e seguem batalhando pelo que acreditam. Exatamente por isso: eles têm convicção, essa virtude rara num mundo de indecisos.
Os líderes se empolgam, enfiam os pés quando bastava girar a maçaneta e falam bobagens. Eles têm convicção, virtude rara num mundo de indecisos.
Um terceiro grupo, minoritário, é formado pelos tagarelas, que lideram as conversas na barbearia, puxam papo sem convocação enquanto dirigem o táxi e, em geral, comandam as rodas no bar, com entusiasmo crescente depois do terceiro chope. Esse grupo só foi incluído nesta discussão por uma característica que sempre me chamou a atenção: todos acreditam, piamente, que o mundo só está do jeito que está (bem feito!) porque ninguém se dignou a ouvi-los.
A consequência de pertencer a um desses grupos transparece quando o portador é colocado numa posição de comando.
Os corajosos logo são qualificados como insuportáveis, porque é inadmissível que alguém tenha a ousadia que não temos. Os frouxos se acomodam com naturalidade no segundo escalão, onde ser neutro é, muitas vezes, um pré-requisito da sobrevivência. E muito especialmente depois que o politicamente correto amordaçou as relações humanas, tornando-as insossas para que ninguém se queixe do gosto! Em razão disso, se uma circunstância especial exigir que ele se manifeste com autoridade, a omissão é constrangedora.
Quando o presidente daquela de sessão da formatura mais badalada do ano (reitor? diretor?) permitiu que a cerimônia continuasse depois da quebra do protocolo, quando alguém aceitou por a toga mas depois decidiu escandalizar, ficou evidente a que grupo ele pertence.
A propósito da fantástica repercussão na mídia, tenho uma sugestão para repórteres isentos: passada a empolgação audaciosa, e restando apenas a perenidade do vídeo, entrevistem os demais graduandos que participaram daquela pantomima e perguntem quantos deles prefeririam que a formatura preservasse a solenidade e não se transformasse numa patética representação circense.
Depois, tenham a coragem de publicar os resultados.