Entre os muitos eventos essenciais positivos na vida de uma pessoa, nada supera em intensidade a de se ter um filho. Pela mesma razão, nada é mais devastador do que perdê-lo, não só pela incompreensível inversão da ordem natural da vida, mas pela extinção aguda e definitiva, dessa usina propulsora de toda a energia que nos move e nos impulsiona a partir do momento em que cheiramos o pescoço das nossas crias pela primeira vez, e iniciamos a obstinada missão de dar a elas, uma vida melhor do que a nossa.
José Saramago, magistral como sempre, definiu filho como “um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem”. Ainda que ele conclua que, como emprestados, não poderemos perdê-los, na verdade sentimo-nos, o tempo todo, não como locatários, mas como os legítimos posseiros de suas vidas, sonhos e destinos. E da morte deles nunca nos recuperaremos, passe o tempo que passar.
A atitude diante da perda é que pode ser diferente. Ainda que a maioria transporte a dor da ausência para a tristeza amarga da solidão, e envelheça inconsolável, alguns conseguem arregimentar forças para a preservação da memória viva, através da prevenção de novas tragédias.
Quando o normal seria afogar as mágoas na aspereza da revolta e na aridez da incompreensão, alguns tipos emergem da catástrofe com a clara determinação de impedir que outras famílias sejam atingidas pela mesma dor que as mutilou.
De onde retiram essa energia? Não tenho ideia, mas sei que eles são especiais.
Ouçam o Beto Albuquerque contando da sua batalha para multiplicar por mil o Banco de Medula Óssea através da lei que recebeu o nome do seu filho, para evitar que morram outros Pietros, como o seu amado, que ele não conseguiu salvar.
Parabéns, Beto, pela capacidade de sublimar o peso avassalador da tragédia, para evitar que famílias desconhecidas sofram dessa dor que basta ser pai para saber que continuará latejando no peito para sempre.
Quando depararem com a energia que ele tem no olhar, saberão porque ele é um ser superior. E entenderão a comoção que marcou o lançamento do Instituto Pietro, em homenagem àquele garoto de cara linda que sorria no painel, justo no dia em completaria 30 anos.
Parabéns, Beto, pela capacidade de sublimar o peso avassalador da tragédia, para evitar que famílias desconhecidas sofram dessa dor que basta ser pai para saber que continuará latejando no peito para sempre.
Tenha certeza de que enquanto viver uma só pessoa salva pelo transplante de medula teu empenho, coragem, resiliência e determinação serão reverenciados, e enquanto viveres serás a imagem irretocável da gratidão, sempre o melhor antídoto do esquecimento.
Obrigado, amigo, e eu te garanto que o Pietro está muito orgulhoso do pai que ele amava tanto e que deixou para trás com a incumbência de representá-lo.