A gente sabe tão pouco do que se passa na cabeça das pessoas, mesmo daquelas – ou principalmente daquelas – que supomos conhecer. E talvez o mais desafiador do convívio esteja exatamente no imprevisto que tantas vezes resulta na sensação para lá de desconfortável de que não conhecemos a criatura de quem nos considerávamos íntimos.
Estas descobertas podem ser amargas e explosivas, deixando a sensação de terra arrasada depois de nos transformarem em terra.
Muitas vezes, os mais perspicazes anteveem a notícia ruim pela linguagem corporal, mas quase sempre a palavra é o instrumento indispensável para remover o pino da desgraça. Alguns dão a notícia aniquiladora sem nenhuma emoção, o que significa uma mistura de crueldade com experiência maligna. Em escala crescente, situam-se os sádicos que não conseguem evitar um esboço de riso, que tentam conter para cumprir as recomendações do manual de demissão, mas não conseguem dissimular aquele deslumbramento que o exercício da maldade confere ao sociopata. Outros, com um leve resíduo de humanidade, desviam o olhar, porque, circunstancialmente, imaginaram-se do lado de lá.
Dar notícia ruim é tão desconfortável que, nos EUA, existem empresas com profissionais treinados na arte de demitir, que circulam pelo país cumprindo a sua trágica missão.
Na escola, é comum que o adolescente desenvolva uma palidez de morte quando a professora, com um risinho enviesado, pergunta: “Quantas matérias você supõe que ainda será possível recuperar, meu querido?”.
No trabalho, as frases emblemáticas como “Precisamos rever as metas” ou “A empresa está passando por um momento difícil” põem a vítima no cadafalso, talvez ainda com a corda frouxa, mas já no pescoço. Porque nem o mais confiante dos evangélicos se animaria em pensar: “Que bom que o chefe resolveu ouvir minha opinião sobre esta crise!”.
Talvez a mais benigna das utilidades de discutir a relação, esta que é, de longe, a mais chata das convocações que a mulher pode fazer no casamento, tenha esta perspectiva: reduzir o impacto de uma conversa que muitas vezes começa amistosa até o outro descobrir que sua amada está usando um colete de explosivos. Numa discussão amorosa, os especialistas confirmam que o mais confiável prenúncio de cataclismo é a surpreendente ausência de lágrimas, que, no passado, tantas vezes escorreram pela cara, sem a preocupação de borrar a pintura, porque naquele momento só pretendiam funcionar como um desesperado pedido de socorro.
Na iminência de uma tragédia afetiva real, a falta de lágrimas, alertam os experts, significa: controle emocional completo, portanto, prepare-se para o pior. De qualquer maneira, independentemente do tipo de relação, pessoal ou profissional, todo comunicado que lhe pareça absolutamente surpreendente significa apenas que você, há muito tempo, está desatento com seus afetos. E no amor, como já alertou o Chico daquela época em que ele sabia escolher as companhias: “Qualquer desatenção, faça não! Pode ser a gota d’água!”.