Toda empresa que hierarquiza funcionários, depreciando aqueles cuja função exige menor qualificação intelectual e menor tempo de treinamento, está ignorando um princípio básico em gestão de pessoas: não existem tarefas secundárias. Talvez merecessem essa denominação aquelas desempenhadas por pessoas azedas, que nem se dão conta do quanto é perceptível a quem se acerca a proximidade de um infeliz com o que faz.
Em uma empresa que se relacione com o público, essas criaturas amargas precisam ser escondidas, e sempre penso no almoxarifado como o depósito adequado do mau humor, e nunca a recepção ou a telefonia, como tantas vezes acontece. Inúmeras histórias famosas reportam ganhos e perdas espetaculares em função do desempenho de funcionários que inconscientemente espantaram ou atraíram clientes importantes, simplesmente pelo jeito tosco ou carinhoso com que se expuseram.
O trabalho, qualquer trabalho, para quem odeia o que faz, funcionará sempre como uma forma de sofrimento, somente comparável com a penúria de quem adoece organicamente. Todo trabalho visto como odioso pelo trabalhador se revela como uma enfermidade corrosiva e degradante. Além disso, essa forma de doença funcional, por todos os seus ingredientes, verdadeiros ou subjetivos, é altamente contagiosa e se espalha entre os circundantes com uma virulência inimaginável.
À semelhança da doença orgânica, em que cada indivíduo diante da mesma condição patológica exibe sua maneira peculiar de sofrer, no trabalho isso se repete com graus distintos de entusiasmo, resiliência ou inconformidade diante de tarefas idênticas cumpridas por pessoas desiguais em ambição, sonhos, entusiasmo ou enfaro.
A Catedral de St. Paul, em Londres, erguida em homenagem a São Paulo, no século 17, foi projetada pelo arquiteto Christopher Wren que, segundo se conta, um dia, travestido de visitante comum, percorreu o canteiro de obras para ver como os operários trabalhavam e se impressionou com a diferença de atitude de três pedreiros: o primeiro não conseguia disfarçar o desconforto e frequentemente parava para secar o suor do rosto naquela tarde de verão; o segundo, em um esforço comedido, trabalhava em silêncio resignado; o terceiro exibia um entusiasmo incomum, assobiando ou cantarolando o tempo todo. Perguntado ao primeiro o que fazia, a resposta foi típica: “Sofrendo aqui com este trabalho miserável, neste calor horrível!”. A resposta do segundo foi a expressão do seu comportamento submisso: “Ganhando o sustento da minha família, afinal, tenho mulher e três filhos para alimentar!”. O terceiro interrompeu a cantoria para responder ao cumprimento do estranho e, quando perguntado o que fazia, colocou na resposta todo seu orgulho: “Eu estou construindo a Catedral de Londres, meu cavalheiro!”.
Não importa se o teu instrumento de trabalho é uma pá, um carrinho de mão, um pincel, um bisturi ou um laptop. Tua vida só será plena se te emprestar a sensação de que estás construindo, a cada dia, a tua própria catedral.