"Para onde vão nossos silêncios quando deixamos de dizer o que sentimos?", quis saber Quino, o mais famoso cartunista argentino, numa de suas frases memoráveis, recém colocada como um mini-outdoor na fachada de uma banca de revistas, próxima ao Obelisco, em Buenos Aires. Sentado no café da esquina, munido de um doble con crema, fiquei observando a reação dos passantes numa manhã de sol quebrando o vento frio da avenida. Houve de tudo. Desde quem passasse rápido e, súbito, desse a volta porque tinha sido fisgado pela sutileza da pergunta, até quem fizesse aquela cara de deixa pra lá que todos fazemos ao ler as mensagens debiloides que enchem as redes sociais com a tola pretensão de sabedoria.
O risco de ter opinião
Sempre que deixamos de dizer o que "tinha de ser dito", encolhemos
Não sei o que é pior: reconhecer que, por falta de coragem, não fomos capazes de dizer o que precisava ser dito, ou assumir que a ideia genial que desmontaria nosso oponente só nos ocorreu depois que o palco da discussão já tenha sido desmontado
J. J. Camargo